Fiz 60 anos em junho e uma das coisas que percebi a partir desta data redonda é que ando chorando fácil. Felizmente, não tem nada a ver com depressão ou algo desta natureza, não são lágrimas de tristeza ou desânimo. São de emoção.
Nem vou citar meu filho Gael, um ano e três meses de sorrisos e graça a me encantar minuto a minuto. O que motiva minha coluna a começar por esta novidade em mim é o esporte e, creia, não o futebol, única modalidade pela qual sou real e completamente apaixonado. De outros esportes, gosto. Outros, admiro. Outros, respeito.
Quem me fez chorar foi Rebeca Andrade e sua conquista de prata na sexta-feira (1º). Ela soma agora quatro medalhas olímpicas e pode avançar sobre este número nesta segunda-feira (5).
Na prata individual que ganhou, foi a intrusa no pódio que tinha duas norte-americanas. Uma delas, a maior atleta mulher do mundo, Simone Biles. Rebeca pegou uma bandeira do Brasil e saiu a iluminar o ambiente com um sorriso vitorioso de quem parecia ter ganho o ouro.
Era prata mas, combinemos, e daí? Rebeca Andrade fez três cirurgias no joelho e tem sete irmãos. A mãe, Rosa, empregada doméstica a fazer malabarismos para alimentar e criar tanta gente.
Rebeca luzia em Paris e, quando vi, lágrimas silenciosas e felizes rolavam-me a face. Uma mulher talentosa, vitoriosa e carismática a inspirar outras crianças e mulheres negras a perseguir um sonho e realizá-lo, a traçar um objetivo e alcançá-lo.
Seu sorriso contagiante era reconhecido por aplausos da plateia multifacetada que percebia naquela atleta a excelência e o carisma que fazem um ser humano inspirar outros.
Minha emoção poderia tomar o caminho de Simone Biles e sua incrível história de abandono na infância, de redenção pelo esporte, de sofrimento recente ao entender em plena Olimpíada passada que sua saúde mental estava em risco e se afastar da competição para cuidar de si mesmo.
A norte-americana voltou nos jogos olímpicos de Paris com ouro no peito e a sensação de que sempre é tempo de começar de novo e reencontrar a felicidade.
A apresentação que lhe garantiu o ouro veio logo depois de Rebeca, que havia assumido a liderança. Era o gatilho pronto para disparar em Simone toda ansiedade que há pouco tempo a afligia, mas ela foi ao solo e simplesmente fez o que mais sabe fazer com a leveza da brisa.
Quando cravou os dois pés no chão depois do último movimento, explodiu no ginásio o grito popular a consagrar sua vitória. Nem consigo imaginar a sensação de bem-estar, alívio e alegria que deve ter tomado conta de Simone Biles.
Só vi em mim a emoção plena de ficar feliz por ela. Como, antes, me encantara Rebeca Andrade e sua arrebatadora apresentação. Estas duas mulheres me emocionaram pelo esporte e gostei de chorar estas lágrimas serenas que agora trago para conhecimento público.
Não há nada tão extraordinário quanto a história de cada ser humano.