Há um emblema muito particular no jogo em que trabalho pela Rádio Gaúcha, neste domingo (1º) pela manhã. O Grêmio, a partir das 11h, estará mandando de novo seus compromissos em sua casa ou, no momento, o que restou dela.
A imponente Arena, um dos mais belos estádios que conheço no mundo, está diminuída no limite da rudeza e da precariedade. Não posso atribuir culpas por atacado à gestora, embora não admire a forma como a Arena Porto-Alegrense gere o equipamento esportivo do Humaitá desde o primeiro minuto do acordo.
Aliás, nas relações pessoais, profissionais, coletivas e esportivas há uma palavra que não pode faltar para o sucesso do relacionamento. Ela é simples como a flor, leve como a brisa, transcendental como um rim. Confiança.
A desconfiança esteve presente desde sempre entre o clube e a empresa que dirige a Arena. Os presidentes que estiveram no Grêmio a partir da inauguração tentaram de um tudo para esta relação melhorar e foram mal-sucedidos em todas as estratégias.
Fábio Koff chutou todos os baldes quando afirmou, lá no início, que a Arena sequer era do Grêmio, que precisava, como até hoje, pagar para que seus sócios frequentassem o estádio.
O acordo original, draconiano, foi revisado, mas o fato de ter melhorado não significa que foi o suficiente. Acontece que, quem assinou o contrato para a construção da Arena, tinha toda legitimidade para tal. O texto foi disponibilizado por Paulo Odone para os conselheiros por longa data. Mais tarde, Romildo Bolzan Júnior, notório conciliador, concluiu que não adiantava diplomacia e chutou os baldes restantes sem que nada de melhor acontecesse por causa disso.
Quando Alberto Guerra assumiu, mudou de estratégia e se valeu de sua enorme habilidade negocial para tentar se aproximar da gestora do estádio e, com isso, conseguir um estreitamento das relações e um afrouxamento das tensões.
Tanto não adiantou que foi para o confronto na Justiça recentemente para assegurar que o dinheiro do seguro pela enchente fosse utilizado como celeridade para as reformas necessárias. É assim que se chega a este primeiro domingo de setembro.
A Arena não terá internet suficiente, não vai abrir as cabines de imprensa e nem contará com a tecnologia habitual para a conferência dos ingressos, que será impresso.
Quem quiser cachorro-quente e refrigerante terá que pagar em dinheiro. O jogo é às 11h porque não haveria como bancar o potente sistema de iluminação do estádio.
A marca do improviso estará em todos os lugares. Ainda assim, os pouco mais de 12 mil gremistas talvez consigam sentir a emoção da volta para a casa.
O time recém-reassentado por Renato Portaluppi poderá avançar sobre a evolução mostrada na vitória sobre o Criciúma.
Monsalve e Cristaldo estarão juntos, o dinamarquês Braithwaite terá a chance de retomar o padrão da estreia contra o Cuiabá, quando fez dois dos três gols da vitória.
O ambiente terá um misto de fé renovada pela presença da torcida possível e, não duvido, uma certa melancolia de ver tanto espaço à disposição sem uso porque simplesmente não houve como operar com segurança o estádio inteiro.
O Atlético-MG acaba de vencer o jogo de ida na Copa do Brasil e ainda tem Libertadores por jogar. O Grêmio, não que fique feliz por isso, compete num campeonato só, o que deve lhe garantir intensidade física e evolução técnica no curto prazo para deixar de vez a proximidade do Z-4 e se alçar a objetivos mais nobre. É o que tem para a feira.