Escreve aqui quem entende que o ano do Grêmio já está ganho no conjunto da obra onde constam título gaúcho, da Recopa Gaúcha, semifinais da Copa do Brasil e risco zero de rebaixamento na temporada seguinte ao acesso. A cereja mais doce do bolo trará uma vaga direta de Libertadores, missão ao alcance deste Tricolor mexido tanto em tão pouco tempo.
Há pouco mais de um ano, o time era medíocre e a perspectiva para a volta à Série A se resumia a uma contagem regressiva até os 45 pontos que garantissem permanência no seu lugar. Este é também o primeiro ano de Alberto Guerra como presidente. Com criatividade e boa visão de mercado, o dirigente trouxe jogadores acima da média e deu a Renato Portaluppi a possibilidade da montagem de uma equipe competitiva a assegurar tranquilidade ao longo dos meses.
É neste cenário positivo que se enquadra agora a dificuldade que o time gremista apresenta quando sai para jogar longe da Arena contra qualquer tipo de adversário. Se a última derrota foi para um organizado e competente Bragantino, houve outras duas recentes difíceis de aturar para Vasco da Gama e Santos, este sim candidatíssimo a cair à Série B pela primeira vez.
Por mais que Renato seja idolatrado - e sobram razões para a idolatria que se materializou na forma de uma estátua na esplanada da Arena -, não vejo a torcida gremista aceitando com a mesma placidez as explicações repetidas quando o sucesso não vem. Após o jogo da quinta-feira (14), só faltou o "deu mole" tão utilizado pelo treinador quando ele entende que houve desatenção e desconcentração dos jogadores. O "tem dia que é noite" esteve no menu das explicações que só constataram o óbvio, isto é, o Grêmio não competiu contra o Bragantino e mereceu perder.
Escreve aqui quem muitas e muitas vezes atribuiu à condução segura de Renato Portaluppi vitórias e títulos do Grêmio. Se ele tem o bônus quando vence, terá o ônus quando perde. É uma simplificação demasiada do técnico identificar falta de competitividade como se ele nada tivesse a ver com isso. Também é missão do treinador incutir em seu elenco a devida competitividade para enfrentar dificuldades. Não basta dizer que os jogadores estavam avisados da competência do adversário e o quanto competem. Mais ainda se o diagnóstico da derrota se repete.
Você, gremista, haverá de lembrar que Renato viu o mesmo problema ao perder em São Januário e na Vila Belmiro. Ora, se já aconteceu de o time se desconcentrar e perder como perdeu nestes dois jogos, é preocupante que venha uma terceira derrota pelo mesmo motivo. Não se trata de explicar derrota para o Palmeiras ou o líder Botafogo; por mais que o Bragantino esteja acima das suas próprias expectativas, é menos time do que os dois citados. A verdade é que há um teto no qual o Grêmio parece ter batido.
Na Arena, em condições favoráveis, ganha e ganha bem. Vi grandes atuações contra São Paulo e Coritiba, vi boas atuações contra Cuiabá e Bahia, sei como o Grêmio é capaz de vencer tratando bem a bola, jogando em aproximação e correndo poucos riscos. Há individualidades que desceram a lomba, casos de Carballo e mais ainda Cristaldo. Coincide com a perda de um meio-campista diferente, Bitello, vendido por necessidade ao Exterior.
Na hora do funil, o Grêmio vai descobrindo duramente sua fronteira. Não há mais o que fazer no mercado, Renato não parece inclinado a recorrer à base em busca de uma inesperada solução. É possível que nem encontrasse lá caso buscasse.
Então, às vésperas de cumprir o jogo atrasado contra o Corinthians fora de casa, o Grêmio precisa de uma reinvenção anímica e tática que eleve seu patamar e rasgue sua fronteira atual. Faz tempo que não ganha longe de Porto Alegre e daqui até o fim do Brasileirão terá mais jogos fora do que dentro de casa. O desafio não é pequeno, mas parece plenamente superável para o objetivo possível deste Grêmio renovado do primeiro ano de mandato de Alberto Guerra. A vaga direta da Libertadores está logo ali.