Na semana em que o Grêmio completa 120 anos de vida, GZH apresenta uma série de matérias especiais para comemorar a data. O material apresenta várias facetas da trajetória tricolor. Hoje, dia do aniversário do Tricolor, confira a o trabalho do museu do clube na busca para descobrir o autor do primeiro gol da história gremista.
O Museu do Grêmio possui quilotoneladas de informação. É o peso da história. São 120 anos contados através de troféus, camisas, bolas, fotos, jornais, revistas e peças de relevância histórica. Apesar de todo o conhecimento armazenado, não há respostas para todas as dúvidas de uma vida tão longa quanto vitoriosa. O mais intrigante dos mistérios a ser desvendado reside em quem marcou o primeiro gol da história do clube?
O resgaste histórico da vida de uma equipe de futebol tão longeva é contado em pedacinhos. Uma informação aqui, outra acolá e a história ganha sentido e forma. O quebra-cabeça se torna tão grande que na visão ampla se tem a imagem completa da representatividade. No caso gremista, nesta sexta-feira (15), quando se festejam os 120 anos do clube, há uma visão ampla da origem, das maiores vitórias, das derrotas, dos grandes personagens. Mas um olhar mais detalhista mostra que faltam peças.
Os responsáveis por preservar e contar a história tricolor são uma espécie de volante pegador, aqueles dedicados meio-campistas que carregam o piano do time. Eles realizam um trabalho de formiguinha em busca de informações que preencham as lacunas. São dias e dias de pesquisa, páginas e páginas de leitura e a resposta nem sempre se materializa.
— É uma pesquisa complexa. Pesquisamos no nosso arquivo e também fora dele. Então, tem de ler jornal por jornal. Página por página. E naquela época as editorias dos jornais não eram bem divididas como hoje. Então, às vezes, demoramos um dia inteiro para confirmar uma informação — conta Lusiane Martinez, arquivista do Museu do Grêmio.
Pouco tempo atrás surgiu um raio de esperança. Um colecionador disse ter em mãos a primeira revista editada pelo Grêmio e entrou em contato. O periódico trimestral foi publicado entre 1916 e 1917 e não fazia parte do acervo do clube. O material é tão raro que uma exceção foi aberta para adquirir os exemplares. O Museu trabalha apenas com doações, mas a coleção foi comprada tamanho sua relevância.
— Pensamos que ali poderia estar o nome do autor do primeiro gol, mas não tinha. Até fala do jogo, mas não cita o autor do gol — lamenta Sandro Pasinato, outro arquivista do Museu que estuda diuturnamente a história gremista.
A fatídica ausência da autoria do gol também aconteceu no jornal A Federação. No texto relativo ao jogo entre Grêmio e Fussball, disputado em 6 de março de 1904, são citadas as duas escalações utilizadas pelo clube naquele jogo. O domingo de jogos teve duelo entre os primeiros e os segundos quadros das duas equipes. Cita a dupla vitória por 1 a 0 do Grêmio. Porém, não relata nem quem nem como a bola foi colocada na rede.
O primeiro gol com autor registrado foi no sexto jogo da história do Grêmio — também contra o Fussball. Até que se prove o contrário com o surgimento do registro de uma das outras cinco partidas anteriores, a honraria até o momento pertence a Guilherme Kallfelz, no 1 a 1 com o Fussball, em 18 de março de 1906.
A revista editada pelo Grêmio continha textos peculiares. Era uma espécie de coluna social do clube, com conteúdos relativos a eventos e matérias sobre familiares de dirigentes, os financiadores do periódico. O espaço comercial era preenchido por empresas de propriedades dos gestores do clube. Havia espaço para informações sobre partidas, mas nada aprofundado. Nada capaz de dirimir a dúvida.
No livro com as primeiras atas do Grêmio estão relatos de algumas partidas. Porém, não há um padrão.
Detalhes sobre o museu
A batalha inglória não tem data para terminar. Ainda que pequena, há a esperança de que apareça alguma publicação desconhecida com a informação, que surja uma espécie de diário perdido encontrado por um familiar distante de alguém que foi testemunha ocular daquela tarde de domingo de quase 120 anos atrás.
— Sempre tem a esperança. Não só sobre essa questão, mas sobre todos os problemas (de informação) que temos. Meio que estão esgotadas as fontes daquele período, mas sempre pode aparecer um material novo.
Entre os maiores problemas estão partidas em que há dúvida de como registrá-las na história. Se foram oficiais ou apenas jogos-treinos. Em muitos casos, há divergências entre as fontes, o que dificulta a vida dessas formiguinhas da história.
Apesar dos hiatos, o trabalho da equipe do Museu guarda riquezas das glórias gremistas. O torcedor verá de perto camisas históricas, relatos das maiores conquistas e os principais troféus erguidos pelos capitães tricolores. No segundo andar, há maquetes dos três estádios da existência do Grêmio. A que recebe mais atenção é a do Olímpico. O Velho Casarão aflora memórias afetivas do torcedor.
— O pessoal para aqui e fica contando histórias do tempo que ia ao Olímpico. Como a maquete tem muitos detalhes, eles ficam apontando para lugares marcantes e de jogos em que estiveram presentes — relata a museóloga Sibelle Barbosa.
Ainda há muito por desvelar. Um sem-fim de ítens está inacessível para o público. São faixas de títulos, bolas, quadros — o principal deles sobre o mítico Gre-Nal Farroupilha disputado em 1935 — camisas, troféus, documentos e que tais.
— Quando a gente estuda a história do Grêmio, a gente não estuda apenas a história do Grêmio. Conta a história de outros clubes, da sociedade, da política, da vida em sociedade daquela época. É uma lupa para outros temas — explica Sibelle.
O Museu também tem importância comercial. Diversos produtos vendidos na loja do clube precisam da ajuda de materiais históricos para sua confecção, principalmente aqueles da linha retrô, para que sejam produzidos da maneira mais fidedigna possível.
O local recebe não menos do que 5 mil visitantes todos os meses. O número o torna um dos museus mais visitados do Estado. Está aberto de segunda a domingo das 10h às 18h — em dias de jogos, o local funciona até 30 minutos antes do início da partida — para contar a história do Grêmio.
Museu do Grêmio
- Aberto de segunda a domingo das 10h às 18h
- Em dias de jogos, o Museu fecha 30 minutos antes do início da partida
- O museu fica em frente à estátua de Renato Portaluppi
- A visitação custa R$ 16 (inteira)