Grêmio e Inter começam o Brasileirão em geografias diferentes na temporada 2023. Surpreendentemente, o vice-campeão brasileiro passou a perder para si mesmo nos jogos mais "comezinhos" do Gauchão. A base tão bem montada por Mano Menezes para superar 18 adversários no campeonato de 2022 esfumaçou. O trabalho do treinador, ótimo desde sua chegada após um ano sabático, perdeu qualidade também.
A soma das individualidades que não mantiveram o ritmo do ano passado, com o treinador que passou a se atrapalhar nas escolhas mais simples, foi fatal para o Inter. Pelo segundo ano seguido, nem chegou à final do Estadual. Na Libertadores, alcançou um resultado melhor do que a performance, o ponto na Colômbia sobre o Independiente Medellin. Na Copa do Brasil, sangrou litros para virar em cima do CSA.
Com contratações modestíssimas, o Inter não aparece no primeiro nem no segundo grupo de favoritos ao título dos pontos corridos. Tampouco corre risco de rebaixamento, por mais que o comportamento recente de boa parte de sua torcida indique este temor. Nas competições eliminatórias, porém, a chance colorada é muito maior. Basta que encaixe em algum momento entre as fases de oitavas de final em diante para virar candidato. Sempre partindo do princípio de que o time de Mano Menezes vai a Maceió e pelo menos empatará com o adversário que tanta dificuldade lhe causou na última terça-feira (11).
Grêmio maduro
O hexacampeão gaúcho deu prova de maturidade quinta-feira passada. Enfrentou um pequeno motivado que vinha de longa invencibilidade. O ABC montou a moldura que o ajudou a eliminar o Vasco da Gama na fase anterior, começou o jogo em grande correria e embretou o Grêmio. Renato Portaluppi lançou um inédito 3-5-2 neste ano, sofreu pouco defensivamente, mas criou zero durante o primeiro tempo inteiro. Aí, veio a primeira mostra da maturidade que abriu este parágrafo. O treinador reajustou o time no intervalo.
Já tinha entrado Zinho no lugar de Lucas Silva, machucado, e o menino promissor passou a ser mais acionado. Em paralelo, outra valência importante do futebol moderno apareceu a favor do Grêmio. Sua condição física sustentou a evolução individual e coletiva. O ABC foi murchando em território que lhe era favorável, o Grêmio manteve a intensidade, avançou sobre o campo alheio e fez dois gols.
Embora a diferença técnica entre os times não faça da vitória gremista uma surpresa, a forma madura com que o Grêmio a alcançou chamou a atenção para os confrontos mais sérios que virão. Pepê vai voltar, Carballo e Suárez também; Nathan estreou como se jogasse no clube há anos, e o time tem margem para evoluir. Se a direção conseguir, numa criatividade mirabolante, dotar Renato Portaluppi de um elenco mais qualificado, especialmente na reposição a Luis Suárez, a candidatura do Grêmio no Brasileirão será consistente. Se não chegará ainda ao que Palmeiras e Flamengo já têm — grupo cheio de peças alternativas —, estará logo abaixo fazendo companhia ao Fluminense.
A rodada de meio de semana da Copa do Brasil mostrou muitos gigantes em dificuldade contra times flagrantemente piores. O Corinthians e Flamengo perderam pelo mesmo placar para Remo e Maringá. É autoexplicativo. O time paulista ainda é um eletrocardiograma com seu jovem treinador Fernando Lázaro. O carioca é uma convulsão que não passa por obra e graça de uma direção que faz da soberba sua linha mestra de atuação.
Instável também é o Atlético-MG de Coudet, que sangrou para ganhar do Brasil de Pelotas no fim do jogo, no Mineirão. Neste quadro geral, tirando a foto do momento, só Palmeiras e Fluminense apresentam regularidade. Esta palavrinha mágica é essencial para vencer um campeonato de 38 rodadas. O Grêmio está muito mais perto de jogar com regularidade do que o Inter em abril de 2023.