Por dever de ofício, quem me lê precisa saber já na primeira frase que infinito foi um termo usado para cooptar sua atenção no título. Infinito é tempo demais, mas me autorizei o exagero para fazer junto a você, leitor ou leitora, uma leitura da relevância de Luís Suárez para este Grêmio que renasce em 2023.
Quando o contratou, Alberto Guerra tinha noção de que o uruguaio catalisaria as energias de quem veste azul e poderia transformá-la em receita, sem o que não se faz futebol de alta performance à esta altura do profissionalismo do esporte. Trazer Suárez, embora caríssimo, aumentaria a venda de camisetas e artigos e ampliaria significativamente o quadro social.
Um círculo virtuoso que se alimentaria, depois do anúncio, do desempenho do atacante nas vezes em que o Grêmio entrasse em campo. Num espectro amplo, este efeito multiplicador de Suárez avançaria temporada adentro e, com o sucesso dos gols e vitórias, traria também novos parceiros que ajudassem a pagar o salário do jogador.
Pois bem: em fins de janeiro, a melhor expectativa sobre Suárez já está superada. Ele tem três de quatro gols na estreia na Arena contra o São Luiz. O segundo gol, o da vitória, contra o Caxias no Centenário. Quatro dias depois, o gol isolado dos três pontos diante do Brasil-Pel.
Nesta partida, a vitória pode ser atribuída, aí sim sem exagero qualquer, exclusivamente ao uruguaio. Suárez resolveu sozinho, num espaço do tamanho de um tijolo, uma jogada de área em que era marcado por dois zagueiros e tinha o goleiro à frente a menos de dois metros. Nada disso impediu que desse seu jeito e fizesse o gol.
Como estratégia de ter sempre o melhor Suárez possível à disposição, o Grêmio não vai expor sua joia ao mau gramado artificial do Passo D'Areia neste domingo à noite. Com seus 36 anos de idade, o atacante vai requerer permanentemente atenção da comissão técnica para que esteja preparado para marcação cada vez mais dura de parte dos defensores adversários.
A dificuldade vai aumentar à medida em que guarda um ou mais gols por jogo. Crescerá ainda mais quando enfrentar times de maior qualidade, mas também é possível esperar que Suárez se reinvente quando tiver diante dele zagueiros mais severos. É da natureza do atacante ser competitivo, basta ver por onde andou.
Resta a Renato continuar moldando sua equipe para que sirva Suárez. Cabe à direção gremista avançar num plano de marketing que potencialize esta figura messiânica do jogador. E, no mundo ideal, novos parceiros vão se apresentar para que, ao fim e ao cabo, Suárez tenha custo zero ou bem perto disso para o Grêmio.
Em paralelo a esta afirmação fulminante de Suárez, o treinador precisará estar atento ao que o campo lhe ofereça em relação a quem cerca o gringo. Na amostragem inicial, Reinaldo está muito longe de ter resolvido a lateral esquerda. Parece ter reanimado Diogo Barbosa na disputa da posição. Quando o antigo titular entra, responde.
No meio-campo, a presença de Carballo em dois jogos consecutivos sinaliza que Renato Portaluppi vai apostar em sua figura como primeiro volante. Até agora, cedo, é verdade, não foi melhor do que Villasanti, que jogou boa temporada em 2022 e esteve bem na primeira partida deste ano, goleada sobre o São Luiz. Cristaldo entrou no segundo tempo quando o Brasil tinha um a menos. Ativo, deu ótimos passes e uma conclusão perigosa. Pelo que custou e pelo que mostrou na primeira oportunidade, seu ingresso no time será natural.
Rogério Zimmermann conseguiu amordaçar Bitello na quarta-feira passada, o menino não teve naturalidade para jogar área a área e terminou o jogo de primeiro volante. A construção do time gremista não será veloz, há muitos novos titulares e posição em plena disputa. Neste contexto, volto à relevância do que Suárez está fazendo pelo Grêmio.
Com seu protagonismo, o atacante é o fiador das turbulências iniciais da formação do time sem que os altos e baixos repercutam na tabela ou no ânimo da torcida. O Grêmio era inferior ao Caxias quando Suárez fez o gol da vitória. O Grêmio jogava mal contra o Brasil quando Suárez resolveu a questão.
Não vejo gravidade neste cenário em que o novo time da temporada se atrapalhe contra equipes tão inferiores. Como o futebol ensina desde sua invenção, é muito mais fácil destruir do que construir. O que, aliás, vale para a vida de modo geral, aí já é outra discussão.
Suárez é uma espécie de panaceia em seu começo no Grêmio. Resolve mais de um problema ao mesmo tempo, o que garante tempo e paz para que as duas últimas temporadas sejam superadas e 2023 comece do tamanho do Grêmio. Para alívio do cofre do clube, Suárez nem colocou os gols do Gauchão nas metas que o remuneram além do salário.
Significa que o jogador tem exata noção da dificuldade menor que viveria enfrentando adversários mais frágeis e não se valeu disso para agregar tostões aos seus ganhos. Suárez é a grande contratação da temporada brasileira até este momento.
Nem o Flamengo ao repatriar Gérson a milhões de euros se compara à ousadia gremista e aos resultados já alcançados com a audácia. Suárez tem potencial — está bem, troque o infinito por extraordinário — para ser a maior contratação da história do Grêmio em custo/benefício.
Parabéns aos envolvidos.