Não há reparo possível após enorme vitória da Argentina sobre a Croácia. O teto dos croatas foi estabelecido em azul e branco pelos argentinos. A primeira metade do primeiro tempo foi o limite da igualdade do jogo em que a Croácia repetia sobre a Argentina o controle que teve sobre o Brasil.
Mas uma disputa de bola no meio caiu no pé talentoso de Enzo Fernándes, que armou um contragolpe esplêndido para Álvarez ser derrubado por Livakovic. Messi converteu, e a Croácia viu, enfim, seu mundo ruir. Levou um segundo contra-ataque com gol de Álvarez ainda no primeiro tempo. Daí em diante, monolítico como antes fora a própria Croácia, a Argentina tomou conta irreversivelmente do jogo.
Mesmo com mudanças em peças, a Croácia, exaurida, encontrou seu limite. Como cereja mais doce do bolo, Messi ainda faria uma jogada antológica para o gol de Álvarez. O 3 a 0 que devastou de vez a Croácia e pôs na vida de Messi a segunda e última chance de ser campeão do mundo e, enfim, instalar-se para sempre na prateleira de Maradona. Volta Acuña, Di Maria será preparado para a final e a maturidade da seleção argentina está a pleno na hora certa. Palmas para los hermanos. Merecem.
Messi
O último tango poderia ser melancólico. Esteve perto disso quando a Arábia Saudita virou sobre a Argentina e o camisa 10 não conseguiu conduzir uma reação. A melancolia da última Copa de Messi ameaçou aparecer quando perdeu pênalti contra a Polônia enquanto estava 0 a 0. Mas o craque, renascido em protagonismo, apareceu contra México, Austrália e a própria Polônia.
Messi conseguiu, à medida que a Copa avançou, reconstruir-se e identificar-se com seu povo. O menino espanholizado por ter se formado homem na Catalunha nunca esteve tão próximo da sua gente. O time joga para ele, Messi retribui assumindo definitivamente a condução da Argentina. Antes arredio a entrevistas e desconfiado porque vinham perguntas tortas de quem não alcançava a idolatria de Maradona, Messi agora se diverte no microfone. Responde, sorri quando a tempestade de elogios é ininterrupta, mas também falou quando da derrota na estreia para a Arábia Saudita. Está diante da grande hora de sua história de vida. Admirado por sua gente, que sonha elevá-lo a outro patamar. Há um time a jogar por seu ídolo.
A Argentina campeã de 1978 ou 1986 não brilhava. Competia e era conduzida por um fora de série. A grande paixão eterna dos argentinos por Messi está por 90 ou 120 minutos.
Scaloni
Um ex-auxiliar que virou técnico principal chorava choro solto depois da vitória sobre a Croácia. Foi abraçado por Messi, trocaram palavras inaudíveis. A afirmação de Scaloni, se tem um começo, aconteceu no Maracanã na conquista da Copa América sobre o Brasil. Depois, ao ganhar como ganhou da Itália há menos de um ano do Catar.
Nesta Copa, ao chegar como um dos grandes favoritos, teve que enfrentar a crise da estreia e responder de imediato a cada novo jogo da fase de grupos. Reformou seu time contra o México, vitória inadiável que evitou eliminação precoce. Entraram Enzo Fernández e Álvarez, não saíram mais. Foi perdido parcialmente Di Maria, era preciso redesenhar a equipe. Scaloni é o firme e discreto comandante desta Argentina finalista. Que se permite chorar à espera dos comandados para abraçá-los, comovido e grato, depois da classificação à final.