Tal qual o técnico argentino no lado vermelho, Renato Portaluppi também perdeu a mão, mas conseguiu recuperar o leme em coisa de 30 dias. Chegou perto do fundo do poço na derrota para a Católica no Chile. Era para o Grêmio ter levado uns cinco ou seis, sofreu um digno 2 a 0 e veio para Porto Alegre enfrentar o Palmeiras. Estava mais protegido com três volantes, não teve criação com o tripé, Renato o desfez, seu time levou gol e empatou pela cabeça do atacante que tinha entrado no desmanche do trio de marcadores. Logo a seguir, o Gre-Nal da Libertadores no Beira-Rio foi ganho com merecimento e devolveu a todos de azul a esperança de dias melhores.
Renato era bombardeado por críticas de gremistas que sempre o idolatraram. Torcidas organizadas foram à Arena protestar. Romildo nem cogitou a demissão da estátua. Ato contínuo ao Gre-Nal vencido, o Grêmio perdeu naturalmente para o líder Atlético MG e a seguir ganhou da Católica na Arena para garantir classificação às oitavas. Provisoriamente, está montado com um meio-campo que não garante posse de bola e controle do jogo. O que Renato ganhou foi um protagonista que andava machucado, Pepê. Para este sábado, deve estar ganhando para banco de reservas Jean Pyerre e Maicon. Seu time é favorito no clássico. Como você que me lê sabe, se bastasse favoritismo não era preciso jogar. Então, o Grêmio entra pela primeira vez no ano no Gre-Nal com favoritismo que ninguém discute. Como reagirá, só às 17h vai se saber.
O certo é que, neste Gre-Nal com cobertura espetacular da Rádio Gaúcha, o empate não é bom para ninguém. Na lógica, o Atlético-MG ganha do Vasco no domingo à noite no Mineirão. Se o Inter não vencer, a distância com jogo a mais vai inviabilizando o mais tênue sonho de título. Não adianta só pontuar. No caso do Grêmio, cuja candidatura a campeão brasileiro já inexiste, o risco de empatar ou perder é entrar no Z-4, ainda que não me pareça real o risco de rebaixamento para o time do Renato.
Significa que o Gre-Nal a ser narrado pelo Pedro Ernesto e comentado por mim e pelo Guerrinha não deverá ter estratégia cautelosa de lá ou de cá. Seria nada inteligente adotá-la. O domingo pós-clássico poderá ser até de folga para vencidos e vencedores, a segunda-feira vai amanhecer nublada para uns e plena de sol para outros. Como é na sua vida, na minha e de todos nós.
A rapina europeia
Na semana que passou, um clube brasileiro viveu a reiterada cena de um europeu oferecendo migalha em moeda forte para levar um protagonista jovem do futebol daqui. A reação firme que teve o presidente do Grêmio foi exemplar, mas são poucos os clubes tupiniquins que podem, hoje, fazer igual. A venda de Everton fez um colchão financeiro que autorizou Romildo a, em frases curtas e implacáveis, deixar claro ao entrevistador português que Pepê não ia ser vendido por preço tão baixo e mesmo que fosse alto não sairia também.
O presidente, aliás, não bravateou; deixou claro que resistiria até o fim deste temporada, o que significa avançar 2021. Não garantiu eternidade na negativa. Até que terminem Brasileirão, Copa do Brasil e Libertadores, o atacante continuará sendo o substituto de Everton na relevância para o time gremista. Até lá, o Porto ou o clube europeu que queira mesmo levar Pepê terá de apresentar proposta decente em vez de vir à América do Sul fazer rapina.