A renovação para 2022 começa agora com a Copa América terminada, mas não virá aos borbotões, não haverá levas de novidades e esquecimento sumário de todos os que jogaram em 2018. Nesta semana, tive informações a respeito do presente da Seleção Brasileira, que bem poderíamos chamar de futuro imediato, tão perto está.
Tite e sua comissão técnica trabalham metodicamente na sede luxuosa da CBF na Barra da Tijuca. Há uma equipe empenhada em abastecer de números contextualizados o desempenho de quem já esteve na Seleção e também de quem anda se destacando o suficiente para ser chamado imediatamente.
Tite não quer estabelecer um dilema para os amistosos deste ano e o começo das Eliminatórias em 2020, período que ainda chamarei de presente da Seleção. Os jogadores mais experientes que formam a base da equipe, entre cinco e sete jogadores que se repetem, continuarão sendo chamados para o que vem logo a seguir.
O treinador da Seleção se lamenta de não poder mais contar com Renato Augusto em alta performance. Pelas informações que tive, era o jogador a fazer a transição do ciclo encerrado em 2018 com o que começa agora para 2022.
Tite chegou a ir à China para ver um jogo do time de Renato Augusto, mas ficou tão incomodado com a falta de competitividade e de qualidade técnica do confronto, que se convenceu não haver mais como aproveitar o meia que jogou muita bola com o técnico no Corinthians campeão brasileiro.
Há mais jogadores nesta conta. Fernandinho, por exemplo, joga numa competição de altíssimo nível, a Premier League, mas não deverá estar no presente e futuro imediato da Seleção porque Tite precisa ter ali um novo jogador para recomeçar o ciclo. Fernandinho tem de Tite admiração e solidariedade. Só de falar nas críticas que considera exageradas ao jogador do Manchester City, Tite se empolga com a defesa que faz do volante e muda até o tom de voz.
Porém, não deixa de ver a evidente necessidade de ter para a primeira posição do meio uma alternativa a Casemiro que não perca em nada em juventude e vitalidade. O escolhido para a missão, em algum momento, será Douglas, nascido no Vasco da Gama, hoje na Inglaterra, que esteve recentemente na seleção de André Jardine em Toulon. Mesmo para esta fase pré-Eliminatórias da Seleção, Douglas é parte da renovação tão necessária.
Conceitualmente, a comissão técnica da Seleção trabalha para conduzir processos paralelos que em alguma hora vão se encontrar. É preciso manter base de time, o que incluirá jogadores experientes já convocados e testados. Na medida em que surjam novos talentos, eles serão parcimoniosamente misturados aos já testados para que a liga se dê entre os que sofreram a dor da eliminação para a Bélgica na Rússia e os que chegam livres deste peso e animados para começar uma história na Seleção.
O raciocínio é simples: não adianta renovar tudo de uma vez só e correr o risco de não estar na Copa de 2022. É preciso respeitar o momento do jogador perto da convocação para os jogos de Eliminatórias, tenha a idade que tiver, porque estes jogos é que levarão o Brasil a mais uma Copa. A Seleção precisará ser competente para ganhar os pontos que lhe darão passaporte carimbado para o Catar.
No mundo ideal de Tite, o Brasil enfrentaria desde já o quarteto europeu formado por França, campeão mundial, Portugal, campeã europeia, Alemanha, candidata permanente, e Bélgica, candidata emergente ao título da Copa. Porém, o treinador parece convencido de que a tarefa não será fácil. O que era amistoso entre europeus, por exemplo, virou Liga das Nações e Portugal acabou de ganhar.
Então, as seleções do Velho Continente não têm data para enfrentamento amistoso com times sul-americanos. Eu soube que Tite lamenta muitíssimo não poder medir seu time contra estas escolas. Talvez consiga perto de 2022, como aconteceu pré-Rússia 2018. Antes, improvável.
O craque e o mistério
Por fim e pelo início, Neymar. O sonho dourado de quem trabalha na Seleção com Neymar era que ele assumisse a carreira para si, fosse capaz de diminuir o poder que o pai tem sobre sua vida profissional e pudesse, enfim, ser de fato o melhor jogador que seu talento lhe autorizaria sonhar. Enquanto isso não acontece, Tite tem planos para seu camisa 10 dentro do campo.
A partir do surgimento de Everton, Neymar pode ser aproveitado como meia central, como jogou algumas vezes no PSG. Tite gostaria de um Neymar empenhado, determinado e concentrado como nos tempos de Barcelona, de onde jamais deveria ter saído.
Neymar foi convocado para os dois amistosos contra Colômbia e Peru, mas Tite vai decidir depois de conversar com ele se joga ou não joga. O técnico não gostaria, no seu mundo ideal, que Neymar voltasse a jogar antes na Seleção do que no clube em que venha a atuar na próxima temporada.
Ao mesmo tempo, é evidente que vender amistoso da Seleção sem Neymar é diferente de vender com ele. Por conta deste tipo de compromisso é que o jogador, recém saído de uma tempestade extracampo, foi convocado. Daí a jogar, vai depender da conversa que Tite terá com ele.