Não vou discutir Tite como treinador de futebol, porque seria estúpido. O cara ganhou tudo que podia ganhar com clubes de tamanhos diferentes. Do Caxias campeão gaúcho em 2000 ao Corinthians campeão do mundo, passando pelo Grêmio inspirando em 2001 a Seleção Brasileira que seria pentacampeã no ano seguinte, Tite só fez vencer merecendo, um dos seus mantras com o qual concordo inteiramente.
O técnico chegou à Seleção por aclamação, classificou o Brasil para a Copa com antecedência e, na Rússia, foi eliminado como poderia ter se classificado no enfrentamento com a Bélgica. Permaneceu após a decepção sem que o torcedor brasileiro julgasse equivocado que ficasse. Tudo o que escrevi acima é patrimônio de Tite, foi construído pelo seu trabalho, onde se inclui saber se comunicar com todo o mundo da bola, dos jogadores à torcida, passando, inevitavelmente, pela imprensa.
A questão, portanto, não é a qualificação do treinador para levar adiante a Seleção Brasileira. Para o colunista, Tite não deve ser demitido mesmo que perca a Copa América. É preciso ter convicção em algo ou alguém. Tite é o melhor treinador do país, está onde tem que estar. O que não impede que corrija rumos, combinemos. Isso, sim, pode e deve ser discutido, porque ninguém acerta ou erra sempre. O treinador, que sempre se comunicou tão bem, está pecando neste quesito. O levante contra os termos empetecados que passou a usar até me parece exagerado, cada um fala como quer, mas concordo que Tite virou o fio ao empregar tanta expressão pouco inteligível para o público médio e talvez até para alguns dos seus jogadores.
Como sempre diz Celso Roth quando perguntado por algo extremo, a pedra de toque aqui é o equilíbrio. Se quiser usar termos estranhos ao vocabulário tradicional do futebol, Tite deve cercar a expressão escolhida por outras que simplifiquem a mensagem. Aí, o contexto induzirá o ouvinte a entender o que quis dizer sua expressão até então inédita ou pouco utilizada. Voltar a se comunicar com o público que lhe afiançou tanta confiança, eis algo que é importante para a sequência do trabalho do treinador brasileiro.
Ainda assim, não é este o problema maior da Seleção que será anfitriã na Copa América em junho. Grave mesmo é ver o time se atrapalhar por tão pouco. Contra o Panamá, a atitude foi mole e o futebol, escasso. Faltou criação e intensidade. Contra a República Tcheca, o primeiro tempo assustou porque Tite escalou um meio-campo impossível de jogar junto. A saída de bola com Casemiro e Allan inexiste. Arthur não pode sentar no banco para ninguém neste momento se o Brasil quiser ter serviço de meio-campo.
Já Philippe Coutinho não está proibido de ir para a reserva, seu desempenho não corresponde, hoje, ao voto que Tite ainda lhe dá. Na escalação do time titular do Brasil, quase metade dos jogadores está na reserva nos seus clubes europeus. Significa que a fase técnica de cada um anda abaixo do padrão.
Como Tite não pode reinventar a convocação e trazer jogadores inéditos para que sejam testados logo na Copa América, estes jogadores que vivem mau momento precisarão melhorar nas mãos do treinador. O reforço de Neymar já vai ajudar muito, mesmo sem que saibamos que Neymar será. Vindo de longa recuperação de lesão, o melhor jogador do time pode voltar voando como pode fazer algo parecido com o que fez na Copa, quando jogou metade do que sabe e virou bulliyng mundial por passar boa parte do tempo deitado pelas pancadas que sofria e, poucas vezes, pelas que não sofria também.
Tite foi extremamente elegante na entrevista depois do jogo com a República Tcheca quando perguntado sobre as críticas a seu vocabulário. Não esperava outro comportamento dele. Agora, saindo da dor recente da perda da mãe e enfrentando críticas ácidas como nunca antes, o técnico está desafiado a responder junto com seus jogadores à desconfiança geral e, combinemos, ele é mestre nesta arte. Fecha com os caras, tira deles a melhor entrega, organiza o time e vai para a vida.
Com a qualidade disponível e a devida correção de rumos, o Brasil é meu favorito a ganhar a Copa América. Como sempre, vou torcer por Tite. Não só para ver o Brasil embalando e indo reto para a próxima Copa, mas pela pessoa que é Adenor Bacchi. Ele merece.