Os escritores de livros de autoajuda tratam, entre outros tantos temas que afligem o frágil ser humano, da frustração gerada por demasiada expectativa quando ela não se confirma. Entre o que eu queria que fosse e o que de fato é, a distância pode ser oceânica, decepcionante e definitiva. Adequar as expectativas é tarefa árdua, requer um nível de concentração e percepção da realidade difícil de alcançar.
Adaptado ao futebol, acontece todo ano com as torcidas dos clubes do mundo inteiro. Se um torcedor começa o campeonato resignado e disposto a aceitar uma posição intermediária na tabela e depois vê sua equipe superar os próprios limites e se candidatar ao título, a euforia nascida daí é contagiante. Caso haja uma reversão desta nova expectativa por qualquer razão, a decepção que aparece desconhece a humildade original e se manifesta com boa dose de ressentimento.
O primeiro parágrafo não foi nariz de cera, jargão jornalístico para algo escrito genericamente a fim de evitar compromisso com esta ou aquela posição. Estou falando do que o torcedor colorado pode estar vivendo no fim de semana em que seu time vai enfrentar o São Paulo no Beira-Rio. Depois de cair cedo na Copa do Brasil para um time que agora só sonha evitar o rebaixamento, o Vitória, e nem chegar à decisão do Gauchão, o Inter surpreendeu o Brasil com vitórias seguidas longe de casa e disputa ponto a ponto a liderança do Brasileirão.
Tanto sucesso inesperado gerou nos concorrentes a necessidade de estudar o Inter e dar jeito de evitar que este viés de alta se tornasse irreversível. Se antes Patrick tinha latifúndios para se movimentar no corredor esquerdo, aparecer na área e fazer gol, agora seu caminho é fechado por marcadores atentos do outro lado. Se antes havia espaço para Pottker dar piques de 30 metros num contragolpe e fazer o gol, se Nico Lopez flutuava desimpedido atrás dos volantes adversários, isso acabou. O modelo dos três volantes com três atacantes bateu no teto e Odair se vê agora obrigado a descobrir um plano B e transformá-lo em plano A.
Neste contexto, D'Alessandro vira peça fundamental para o Inter. Seu passe é inédito, sua visão de jogo, superior. Seu fôlego, insuficiente para 90 minutos em alta intensidade. O que cabe ao treinador colorado é otimizar seu jogador mais qualificado no tempo em que possa estar em campo fazendo a diferença. Contra o São Paulo, o Inter vai precisar ser propositivo e construtor, caso mantenha a ambição alimentada ao longo da competição de ser campeão brasileiro. Tivesse apenas o objetivo de vaga direta na Libertadores, empatar seria um resultado aceitável, bastava vencer os adversários menos difíceis na sequência dos nove jogos que restariam.
De uma forma ou de outra, seria bom para o time colorado que o torcedor fosse para o estádio dotado de sua mais tibetana paciência e do seu mais alto entusiasmo. Assim, a torcida poderia ou poderá ajudar de fato sua equipe a encontrar os caminhos que a levem à vitória, indispensável para sustentar o sonho do título que não vem desde 1979.