Além de Tite no comando da Seleção Brasileira, mantido pela competência apesar da eliminação prematura na Copa da Rússia, há outros tantos gaúchos em cargos de gestão no futebol brasileiro. Luiz Felipe substituiu o também gaúcho Roger Machado no Palmeiras, Renato e Odair dirigem Grêmio e Inter, Paulo César Carpegiani tenta evitar o rebaixamento do Vitória. Na ponta alta e na ponta baixa da tabela, sobram profissionais gaúchos com missão a cumprir neste Brasileirão.
Uma das mais espinhosas está nas mãos de conterrâneos lá em Curitiba. Tiago Nunes já trabalhava no Atlético-PR quando outro gaúcho chegou para fazer parte do comando do clube. Rui Costa, aos 55 anos, assumiu há pouco mais de um mês como executivo do futebol e disse estar realizando um sonho ao atuar no clube do Paraná. Antes, tinha trabalhado no Grêmio, onde cobiçava a Libertadores, e na Chapecoense, que precisava ser reconstruída depois da tragédia pela qual passou com mortos, feridos e uma dor eterna.
Fiz três perguntas a Rui Costa e outras três para Tiago Nunes, que foi campeão paranaense com o Atlético-PR jogando com time alternativo. Daquela equipe, cinco jogadores são titulares hoje. Daqui a um mês, o Furacão vem ao Beira-Rio enfrentar o Inter, contra quem Tiago Nunes, de 38 anos, estreou no primeiro turno do Campeonato Brasileiro empatando em 2 a 2.
Dirigir Grêmio ou Inter "seria uma honra", me disse polidamente quando cogita esta possibilidade futura. De frequentador da zona do rebaixamento ao 10º lugar na tabela, se passaram pouco mais de dois meses.
Tiago Nunes, técnico do Atlético-PR
Em menos de dois anos, você saiu do Veranópolis para virar sensação no Atlético PR. Como foi o processo?
Foi rápido. Ao fim daquele Gauchão, recebi convites de equipes das Séries C e D e também do Atlético PR e do Grêmio para trabalhar no sub-20. O Atlético-PR foi o único que me apresentou um projeto de carreira com perspectiva efetiva de crescimento. Ser campeão estadual com o time de aspirantes foi inédito para o clube, que já mantinha este projeto há algum tempo. Jogamos com atletas do sub-20 e outros que estavam com situação de dúvida no clube. O título acabou valorizando a todos.
Que conceito de jogo você implementou neste Brasileirão para dar certo tão rapidamente?
O principal foi fortalecer a organização defensiva. A equipe havia levado 27 gols em 22 jogos até então. Estimulei o equilíbrio entre o jogo de posse e o jogo vertical, além da relação clara das disputas de posição entre os atletas definindo quem disputa com quem.
Tenho especial admiração pelo futebol de Raphael Veiga, que você reabilitou nesta campanha bem-sucedida. O que você fez com o jogador?
Raphael Veiga é um jogador especial, com repertório técnico incrível e alto poder de definição. Um atleta como ele precisa de confiança e sequência de jogos. O que fizemos foi oportunizar a chance de arriscar, sem preocupação com as cobranças que os erros podem trazer.
Rui Costa, diretor-executivo do Atlético-PR
O Atlético PR vende uma imagem de clube organizado, mas também parece de difícil trato com a imprensa. Como funciona seu trabalho neste contexto?
O Atlético PR é um clube verdadeiramente organizado a partir de parâmetros de excelência muito claros e aprimorados ao longo dos anos. Possui políticas claras e de vanguarda que nem sempre são facilmente assimiladas no ambiente do futebol. Acredito que minha experiência e perfil profissionais possam contribuir para equilibrar este ambiente empresarial com as características e a intensidade emocional que o futebol provoca e exige.
No longo prazo, o que você pode fazer para reabilitar o Atlético-PR como candidato a títulos como o de campeão brasileiro de 2001?
Mesmo após 2001, o clube continuou buscando conquistas importantes, foi finalista de Libertadores e Copa do Brasil e esteve próximo de uma nova conquista de Brasileirão. O que buscamos agora, a partir dos desafios e metas que me foram apresentados, é um protagonismo recorrente no cenário competitivo que nos permita retomar o caminho dos títulos de maior repercussão.
O que agregou no seu trabalho a primeira experiência no Grêmio e a reconstrução da Chapecoense?
Foram trabalhos distintos nos objetivos e contextos, mas que tiveram em comum um importante e reconhecido legado. Creio que este seja um grande diferencial no trabalho dos executivos de futebol: deixar legados positivos que possibilitem conquistas e valorização de ativos a médio e longo prazo. Minha grande meta é deixar um legado que se insira no projeto de consolidação desportiva do clube.