— Faço o que tem de ser feito.
Foi com esta frase que Pedro Geromel explicou por que virou um dos líderes do elenco do Grêmio, onde chegou cinco anos atrás vindo do Mallorca, da Espanha. Foi um achado de Rui Costa, hoje executivo da Chapecoense.
Falei com Geromel logo depois da conquista da Recopa e comecei a entrevista que reproduzo abaixo perguntando sobre o bonito momento da dupla capitania com Maicon para levantar a taça de campeão logo após a vitória nos pênaltis contra o Independiente.
Como surgiu e de quem foi a ideia da dupla capitania para levantar o troféu da Recopa?
Do Maicon. Antes do jogo, ele me disse que tomaria esta atitude caso fôssemos campeões. Falou para mim que nós dois éramos capitães, mas só um poderia levar a braçadeira. Por isso, sugeriu que ambos levantássemos a taça. Topei, né? (risos)
Atitudes como esta mostram que o grupo é unido ou se trata de fato isolado, de uma relação boa entre você e Maicon?
Mostra que o grupo do Grêmio é unido, sem dúvida. A manutenção desde 2016 ajuda nesta confiança que cresce quanto mais se convive. Sei que a frase é batida, mas é um elenco onde os jogadores não têm vaidade.
Sua liderança não vem da gritaria, das palavras de ordem, daquelas características que mais aparecem normalmente num líder ou capitão. Como é esta liderança?
Eu faço o que tem que ser feito. Não faço mais do que precisa, não tento aparecer, mostro a todos os outros jogadores que sou normal, que faço meu trabalho me dedicando ao máximo, e dá para ser líder assim. Os caras acabam se identificando com isso. Veja os meninos. Eles vêm conversar comigo e logo percebem que estão diante de um cara como eles, que faz o que tem que ser feito. Já fui capitão no Colônia, na Alemanha, e um dirigente lá me falava sobre esse meu jeito de ser e parecer normal e ganhar logo a confiança dos outros jogadores.
Quando veio do Mallorca para o Grêmio, imaginava que seria cotado um dia para ir a uma Copa do Mundo pela Seleção?
Nada! Fiz 15 anos da minha carreira na Europa jogando em clubes pequenos ou médios que lutavam contra o rebaixamento. Tenho 32 anos, estava lá na Europa com 25, 26 anos e pensava que não tinha mais chance de ser lembrado. Cheguei ao Grêmio e ouvi de alguns torcedores, quando fui fazer o primeiro treino em Bento Gonçalves, que eu não tinha “cara de Libertadores”, parecia cara disso, cara daquilo...No meu primeiro jogo, na primeira bola que dei um passe em vez de um bico, ouvi um murmúrio na arquibancada. Quando precisei dar um bico, a torcida vibrou! Mas fiz do meu jeito e foi dando certo. Em 2014, com Luiz Felipe de técnico, passamos uma série boa de jogos sem tomar gol – ali eu acho que ganhei a torcida de vez.
Com cinco anos de Porto Alegre, o chimarrão já é hábito?
Entrou por tabela. Minha filha Lia, de cinco anos, gosta de tomar e pede que eu faça, tive de aprender a fazer. Levo na escola sempre que dá, são três, né? A mais velha pede que eu deixe na esquina, fica com vergonha. A mais nova prefere que eu vá até o portão... para levar ao estádio é engraçado. A Lia, de cinco anos, me diz : “papai, não gosto de ir no estádio porque você fica lá brincando com seus amiguinhos, e eu fico sem nada para fazer!”.
E a sintonia com Kannemann? Para mim, trata-se da melhor dupla de zaga da América do Sul.
O Kannemann é simples, entrosou direto no grupo. O cara gosta de samba, acredita? Nos fones de ouvido dele, chego a ouvir o som de pandeiro, surdo, tantan. Eu gosto de samba, mas o Kannemann gosta mais! Eu ouço de tudo, do samba ao sertanejo, do pop.
Você consegue não levar para casa as coisas do trabalho? Vitória ou derrota mudam seu ambiente familiar?
Não levo para casa porque, com três filhas, elas acabam me levando para a realidade delas. Se eu ganhei, elas querem comemorar junto. Se eu perdi, querem brincar comigo do mesmo jeito. A medalha da Libertadores, quando mostrei para um delas, ouvi: “Ih, pai, igualzinha à que eu ganhei na escola!”. Então, mal consigo ver os filmes e série que gosto, fico envolvido com elas. Filhos são a melhor coisa, né?