O apoio dos demais integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) à decisão de Alexandre de Moraes que bloqueou a rede social X já era esperado. Decisões desta magnitude não são tomadas de maneira isolada e repentina.
Mas o desgaste junto à opinião pública, além das críticas de juristas sobre possíveis excessos na postura de Moraes, aumentam internamente a pressão por um desfecho no inquérito das fake news, do qual ele é relator. Aberto desde 2019, o inquérito nasceu com apoio da maioria dos ministros, mas a demora em seu encerramento já causa incômodo.
Em tese, impedir uma empresa estrangeira de operar no Brasil até que nomeie representante legal e cumpra decisões da Justiça não deveria despertar polêmica. Mas no caso de Elon Musk, a disputa envolve uma clara conotação política e ideológica. Apoiador de Donald Trump e com simpatia por Jair Bolsonaro, Musk revolveu descumprir ordens de bloquear perfis de investigados no inquérito das fake news. Mais do que defender a liberdade de expressão, foi uma forma de afrontar Moraes e denunciar o que considera uma repressão direcionada a pensadores e militantes de direita.
O perfil reativo e punitivista do ministro não deixava dúvidas sobre as consequências que a atitude do bilionário norte-americano provocaria. Mas o desgaste pelo bloqueio do antigo Twitter, utilizado por milhares de brasileiros, não é algo isolado. Ele se soma a medidas excessivas contra dezenas de pessoas no inquérito das fake news e na investigação das chamadas milícias digitais.
Os ministros do STF estão convictos de que muitas medidas tomadas por Moraes nos últimos anos foram necessárias para barrar investidas contra as instituições. De fato, os atos de 8 de janeiro evidenciaram uma clara tentativa de rompimento do regime democrático no país, com participação de agentes públicos e políticos. Agora, mais de um ano e meio depois, muitos entendem que é tempo de virar a página. E a costura política para encerrar este capítulo já está em curso.