A Polícia Federal (PF) incluiu no relatório da investigação sobre a falsificação de cartões de vacina trechos da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Segundo o militar, a ordem para que ele fraudasse o sistema partiu do ex-presidente. A acusação já foi negada por Bolsonaro, mas isso não impediu seu indiciamento no caso.
Mauro Cid disse aos investigadores que providenciou por intermédio de outras pessoas a inclusão dos nomes do ex-presidente e de sua filha caçula, Laura, no sistema do Ministério da Saúde, depois imprimiu os certificados e entregou em mãos a Bolsonaro.
Trechos do depoimento do ex-ajudante de ordens foram replicados no relatório da PF. O arquivo, com 231 páginas, teve o sigilo retirado nesta terça-feira (19) pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF).
"QUE o presidente, após saber que o COLABORADOR possuía os cartões de vacina para si e sua família, solicitou que o COLABORADOR fizesse para ele também; QUE o ex-presidente deu a ordem para fazer os cartões dele e da sua filha, LAURA BOLSONARO; QUE o COLABORADOR solicitou a AILTON que fizesse os cartões; QUE o COLABORADOR confirma que pediu os cartões do expresidente e sua filha LAURA BOLSONARO sob determinação do ex-presidente JAIR BOLSONARO e que imprimiu os certificados; QUE solicitou a inserção de dados no sistema CONECTESUS de sua esposa, filhas, ex-presidente JAIR BOLSONARO e de sua filha, LAURA BOLSONARO", diz o relatório.
O contato referido por Mauro Cid no trecho é com Ailton Gonçalves Barros, ex-major do Exército, que está na lista dos 17 indiciados. Também foram responsabilizados funcionários da prefeitura de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, cidade em que foi registrada a vacinação falsa.
Segundo o ex-ajudante de ordens, após encaminhar o pedido de fraude a Ailton, ele enviava os dados ao secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha, que usava senhas para inserir os dados no sistema do Ministério da Saúde.
A PF ainda identificou tentativa de apagar os registros e os rastros da falsificação no final de 2022, após ser noticiada a possibilidade de o presidente Lula retirar o sigilo de até 100 anos imposto pelo governo Bolsonaro em seu cartão de vacina.
A PF concluiu que a fraude serviu para manter coeso o elemento identitário do grupo em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a covid-19.
"Desta forma, a recusa em suportar o ônus do posicionamento contrário a vacinação, associada à necessidade de manter hígida perante seus seguidores, a ideologia professada (não tomar vacina contra a Covid-19), motivaram a série de condutas criminosas perpetradas", finalizou o documento.