Com um pilha de projetos prioritários que dependem de análise do Congresso na reta final do ano, o governo entrou de cabeça em algo que à primeira vista poderia parecer apenas uma disputa local de poder. Mas a “República de Alagoas”, como foi apelidado o caldeirão político deste pequeno Estado do Nordeste, ganhou novos capítulos com a crise da Braskem. A tragédia ambiental e social é apenas pretexto para mais uma briga entre o grupo político do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), e o do senador Renan Calheiros (MDB), que busca instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso.
Não há dúvidas de que o rompimento de uma mina em Maceió e outros efeitos da exploração feita pela Braskem no Estado precisam ser investigados. Mas, com a instalação da CPI, Calheiros tem o claro objetivo de desgastar um aliado de Lira, o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL). A menos de um ano das eleições municipais, o veterano senador tem pressa em iniciar os trabalhos.
Não é de hoje que a briga entre os grupos de Lira e Calheiros gera problemas ao Planalto. Em maio, Lula teve dificuldades para aprovar a medida provisória que estruturou o governo após os parlamentares trocarem xingamentos públicos. Na ocasião, aliados do senador acusaram Lira de ter exigido a demissão do ministro dos Transportes, Renan Filho, para viabilizar votações que interessavam ao governo na Câmara. O presidente da Câmara negou que tenha feito a chantagem.
Nos últimos dias, além da preocupação com os impactos que os empreendimentos da Braskem provocaram à população de Maceió, o tema ampliou disputas entre várias lideranças políticas do Senado e da Câmara, que vão além da rixa alagoana e agora ameaçam o apertado calendário de votações do legislativo.
O presidente Lula recebeu as principais lideranças de Alagoas nesta terça-feira (12) e clamou por pacificação. Mas os próximos dias serão decisivos sobre a CPI. Será difícil o governo não tomar lado na disputa, e qualquer escolha irá provocar desgaste político.