O presidente Lula ignora há meses a chance de demonstrar verdadeiro compromisso com o combate à corrupção em seu terceiro mandato e de se afastar de um problema que, pelo menos até agora, não é seu. Nesta sexta-feira (1º), a Polícia Federal (PF) deu mais um motivo para ele demitir o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União-MA). Avançou nas investigações de um esquema de 2020, ainda herança do orçamento secreto.
As acusações foram reveladas em operação da PF contra supostos desvios na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Internamente, já havia queixas sobre o excesso no repasse de emendas por ministros a seus redutos eleitorais.
A PF diz que Juscelino Filho repassou recursos à cidade de Vitorino Freire (MA), cuja prefeita é a irmã dele, Luanna Rezende, em 2020. E parte da verba teria asfaltado uma rodovia que leva à fazenda da família.
Aliás, usar dinheiro público para melhoria em estradas no entorno de propriedades familiares virou prática comum no Congresso. O modus operandi ganhou força com as emendas RP-9, criadas no governo Jair Bolsonaro em dobradinha com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Mas as suspeitas contra o ministro de Lula vão além. Em poucos meses de governo, o jornal Estadão revelou uma série de suspeitas de irregularidades no uso de verbas públicas, que incluem o uso de avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e o recebimento de diárias para acompanhar leilões de cavalos em SP, além da suspeita de contratação de funcionários fantasmas no Senado.
O caso do asfaltamento de estradas que a PF investiga também foi revelado pela imprensa. O Estadão mostrou que Juscelino indicou R$ 5 milhões quando era deputado federal para pavimentar um trecho de 19 quilômetros em frente às suas terras e 11 ruas em povoados da cidade.
Sem conexão direta com Lula, o ministro foi indicado pelo União Brasil em meio às negociações do petista para montar uma base de apoio no Congresso. O nome foi anunciado na véspera da posse, junto com a já demitida Daniela Carneiro (Turismo) e Waldez Góes (Desenvolvimento Regional).
No momento em que discute abrir a Esplanada para outros partidos do centrão, Lula deveria mostrar que não está preocupado com apoio a qualquer custo. Manter o ministro no cargo, mesmo com todos os indícios de corrupção, poderá ser interpretado como um recado de que vale tudo no governo para quem é parceiro em votações.