Lula sabia da necessidade de ter o centrão em seu governo antes mesmo de ser eleito para o terceiro mandato. Ao definir o desenho da Esplanada, tinha plena consciência de que o amplo espaço destinado ao PT seria logo reduzido.
O presidente conhece profundamente o jogo do poder, por isso governa de olho no relógio. Ao agir com cautela, mede o custo-benefício de cada movimento.
A posse do novo ministro do Turismo, nesta quinta-feira (3), ocorreu quase três meses após o início das negociações. Entre a decisão pessoal de que mudaria o comando da pasta e a cerimônia para celebrar a chegada do novo auxiliar, Lula demorou quase um mês.
Nada foi à toa. Antes de entregar a cadeira do Turismo ao deputado Celso Sabino (União-PA), que na campanha estava ao lado de Jair Bolsonaro, o petista quis demonstrar que não cederia fácil a qualquer pressão, além de sublinhar respeito e lealdade a quem ocupava o cargo.
Esposa do prefeito Waguinho, de Belford Roxo, a deputada Daniela Carneiro (RJ) teve a permanência na Esplanada inviabilizada pelos desentendimentos que travou com os colegas de União Brasil. Se dependesse do líder do partido na Câmara, Elmar Nascimento (BA), a troca teria ocorrido nos primeiros dias de governo. Mas Lula não queria agir de maneira afoita ao receber os apelos de outra liderança que esteve no campo oposto da disputa eleitoral.
O olhar paciente de Lula aos ponteiros do relógio causa, é claro, impaciência no centrão. E as cobranças costumam recair sobre o presidente da Câmara, Arthur Lira. Além de referência do bloco, ele é o responsável por costurar acordos com Lula e os líderes do governo.
Nesta semana de volta do recesso parlamentar, Lira tem ouvido um rosário de reclamações, principalmente de membros do PP e do Republicanos. Representantes mais exaltados das legendas ameaçam boicotar a votação do arcabouço fiscal enquanto Lula não nomear novos ministros e oficializar indicações do centrão em outros espaços do Executivo.
Assim como ocorreu no caso de Sabino, Lula já comunicou com antecedência ao PT que o partido precisará abrir mão de espaço. Nos últimos dias, ouviu conselhos de antigos aliados. Mas, sozinho, tenta calcular o movimento que trará menos prejuízo à sua autoridade como presidente ao mesmo tempo em que sacia a fome dos futuros aliados.
O imbróglio em torno de qual ministério será afetado pelas mudanças não é o que determina a demora na decisão de Lula. O presidente quer demonstrações claras de que não ficará refém do Congresso após ceder mais espaço e de que pautas prioritárias do governo serão aprovadas.
Nos corredores do Congresso, os deputados Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA) já são chamados de ministros. Com sorriso amarelo, não corrigem ninguém, mas pedem calma e apontam para o relógio.