Em frente às câmeras, o presidente Lula e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, tentam disfarçar o incômodo em torno da escolha do economista Márcio Pochmann para o comando do IBGE. Mas, nos bastidores, o petista não esconde a irritação com a resistência que a auxiliar demonstrou, inclusive tentando evitar que a ordem fosse consumada.
Nesta terça-feira (1º), na transmissão que faz semanalmente nas redes sociais, Lula elogiou Tebet e argumentou que "tentaram até inventar briga" entre os dois. As divergências sobre a escolha, contudo, ficaram evidentes.
— A Simone Tebet sabe que o Marcio Pochmann é meu escolhido há muito tempo e, com toda a clareza, ela ponderou que era importante terminar o Censo. Terminou o Censo, agora o Marcio Pochmann vai tomar posse como presidente do IBGE — sublinhou.
A fala contrasta com o que Tebet disse no final da última semana, em uma entrevista que aumentou o descontentamento de Lula. Após ser vencida no embate interno sobre o comando do órgão — cuja atribuição é de sua pasta —, a ministra afirmou que não sabia do nome escolhido pelo presidente.
— Nada mais justo que atender o presidente (Lula), independentemente do nome. Acataremos qualquer nome que venha. Agora eu sei o nome dele e terei o maior prazer em atender ao presidente Lula — afirmou Tebet.
Antes, em declarações reservadas a aliados, a ministra havia reclamado da imposição do nome por Lula, especialmente pela linha de pensamento de Pochmann na área econômica, que guarda várias divergências com a trajetória da emedebista.
Atual presidente do Instituto Lula, Pochmann comandou o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em governos do PT. Gaúcho de Venâncio Aires, se formou pela UFGRS e fez carreira na Unicamp, conhecida pela linha econômica heterodoxa.
Outra cartada da ministra que incomodou o presidente foi a tentativa de resumir as divergências a uma falha de comunicação com o ministro da Secretaria de Comunicação (Secom), Paulo Pimenta. Ele anunciou a escolha à imprensa após uma reunião no Palácio da Alvorada. Tebet deu a entender que o ministro havia se precipitado, mesmo sabendo que ele havia sido informado pelo presidente acerca da decisão.
A confirmação de um "petista raiz" no IBGE ocorre no momento em que o partido se vê na iminência de perder espaço na Esplanada com a chegada de mais dois partidos do centrão. Além de ocuparem ministérios, indicados pelo PP e o Republicanos miram cargos de segundo escalão e o comando de estatais.