Jair Bolsonaro sabe que dificilmente será poupado pela Justiça Eleitoral pelos abusos que cometeu antes e durante a campanha do ano passado. O início do julgamento, nesta quinta-feira (22), seguiu o roteiro esperado, com a leitura de um resumo da ação pelo relator, ministro Benedito Gonçalves, manifestações dos advogados de acusação e defesa, além da sustentação do Ministério Público Eleitoral, que defende a inelegibilidade do ex-presidente.
Nos corredores do TSE, nem mesmo simpatizantes de Bolsonaro arriscam um placar favorável a ele. O que se especula é se o resultado será de 6 x 1, com voto contrário à punição apenas do ministro Kassio Nunes Marques, o único indicado pelo ex-presidente. Ou se terminará em 5 x 2, somando o voto de Raul Araújo Filho, advogado indicado pelo presidente Lula ao TSE, mas de perfil mais conservador.
Na próxima sessão, marcada para o dia 27 deste mês, deve ser conhecido o voto do relator. Seu histórico ao analisar a propagação de notícias falsas, ataques à democracia e ao sistema eleitoral indica que será favorável à condenação, com voto acompanhado de um discurso duro. Os demais integrantes da Corte só devem se manifestar dois dias depois, quando está prevista a terceira sessão de análise do caso.
Autor da ação, o advogado do PDT, Walber Agra, tentou afastar a tese de que se busca responsabilizar Bolsonaro pelo "conjunto da obra". Ressaltou, porém, que ao convocar embaixadores estrangeiros para uma reunião na residência oficial, com transmissão por TV pública, e mentir sobre o sistema eleitoral, Bolsonaro fez ataques diretos à democracia.
Ex-ministro do TSE, o advogado de Bolsonaro, Tarcísio Vieira, buscou relativizar o caso, admitiu que o ex-presidente pode ter adotado um "tom inadequado", mas classificou suas declarações como uma tentativa de "melhorar o sistema eleitoral". Dedicou parte da sustentação a convencer os ministros a aplicarem apenas uma multa.
A única tese da defesa que tem boas chances de ser aceita, contudo, é a exclusão do candidato a vice de Bolsonaro, general Walter Braga Netto, da ação. O entendimento é seguido até mesmo pelo Ministério Público Eleitoral.
A se confirmar a tendência de condenação de Bolsonaro, a saída dele da corrida eleitoral de 2026 trará consequências imprevisíveis. O ex-presidente já deixou claro que irá comparar o seu caso ao de Lula e reforçar o discurso de perseguição. Basta saber se irá se empenhar para transferir seu capital político a outro candidato - postura que contraria seu histórico - e manter viva a chama bolsonarista até 2030, quando poderá disputar novamente a presidência.