Quem ainda esperava qualquer tipo de moderação de Donald Trump, especialmente em temas tarifários pode abandonar a aba do boné Maga (Make America great again).
Sem uma provocação conhecida, o presidente eleito dos Estados Unidos escreveu em uma rede social, no sábado, que os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, além de outros cinco) poderão enfrentar tarifas de até 100%.
Caso essa ameaça seja concretizada, as exportações brasileiras para os Estados Unidos custariam o dobro de seu valor atual, ou seja, seriam totalmente inviabilizadas.
A mensagem de Trump é inquietante: "A ideia de que os países do Brics estão tentando se afastar do dólar enquanto nós ficamos parados observando ACABOU (maiúsculas no original). Exigimos um compromisso desses países de que eles não criarão uma nova moeda do Brics nem apoiarão qualquer outra moeda para substituir o poderoso dólar americano, ou enfrentarão tarifas de 100% e deverão dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia dos EUA".
O grave é que Trump não "exige" apenas que o projeto de uma moeda paralela nas negociações internacionais seja deixado de lado. Demanda "um compromisso", ou seja, uma deliberação nesse sentido. Na atual correlação de forças do Brics, isso é altamente improvável.
A criação de uma alternativa ao dólar é tema de todas as reuniões de cúpula do Brics. Na de outubro passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, em Kazan, na Rússia, a criação de meios de pagamento alternativos.
E agora? É bom lembrar que as decisões sobre tarifas não passam pelo Congresso. Será uma decisão tomada por Trump e seus secretários do Tesouro e do Comércio. No Tesouro, estará Scott Bessent, que fala em "reordenação econômica global" e em "manter o status do dólar como moeda de reserva mundial".
No Comércio, Howard Lutnick é visto, nos EUA, como uma indicação do bilionário Elon Musk, apoiador entusiasmado da adoção de altos impostos de importação. Em entrevista a um podcast dias antes de sua indicação, afirmou que os EUA não devem cobrar mais de seus cidadãos. Em vez disso, "imponha tarifas à China e arrecade US$ 400 bilhões".
Claro, uma tarifa de 100% é quase impensável. Mas a ameaça é quase o dobro da feita em específico para a China, de 60%. Ainda que os percentuais não alcancem níveis que podem ser considerados ridículos, podem aparecer em níveis suficientemente altos para arrecadar mais e prejudicar os exportadores.
E também é claro que nem Trump pode impor tarifas indefinidamente, sob pena de arruinar a própria economia. Estudo do Peterson Institute for International Economics indicou que uma família típica de renda média dos EUA pode gastar US$ 2,6 mil a mais por ano com uma tarifa geral de 20% sobre todas as importações e de 60% sobre as importações da China.