Quem acompanhou boa parte desses 25 anos de avanços e retrocessos na negociação do acordo entre União Europeia (UE) e Mercosul, como a jornalista que assina esta coluna, tem direito a um certo ceticismo.
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia – espécie de Poder Executivo do bloco parceiro –, anunciou o acerto há pouco, em Montevidéu. Mas só saberemos com certeza se este foi um dia histórico nos próximos meses.
— Este é um acordo ganha-ganha, que trará benefícios significativos para consumidores e empresas de ambos os lados. Estamos focados na justiça e no benefício mútuo. Ouvimos as preocupações de nossos agricultores e agimos de acordo. Este acordo inclui salvaguardas robustas para proteger seus meios de subsistência — afirmou Von der Leyen.
O que foi dito até agora em Montevidéu não garante que não seja uma reprise de 2019, quando um acerto chegou a ser anunciado oficialmente – e comemorado como histórico –, mas não avanço de fato. Von der Leyen foi explícita, inclusive:
— Hoje estamos transformando a missão em realidade. Estamos enviando uma mensagem clara e poderosa para o mundo. O acordo não é apenas necessidade econômica. É necessidade política.
Há necessidade da UE, premida entre um novo governo de Donald Trump nos Estados Unidos e o avanço implacável da China. E no Mercosul, até do usualmente "do contra" Javier Milei. Mas como um anarcocapitalista justificaria se opor a um tratado de livre-comércio?
O anfitrião do encontro, Luis Lacalle Pou, fez um governo bem avaliado e está passando o bastão para a oposição – de forma elegante e democrática, mas com gosto amargo. Mencionou, inclusive, o fato de seu pai, o ex-presidente Luis Lacalle, ter lançado as negociações em 1999.
E a retomada do protagonismo internacional é a segunda agenda mais relevante de Luiz Inácio Lula da Silva. O acordo com a UE é um troféu na parede. A dúvida é se vai se traduzir em melhora efetiva dos negócios entre os 31 países envolvidos.
Na hipótese mais benigna, falta a aprovação do acordo pelo Parlamento Europeu. Na mais complexa, ainda depende da conclusão de detalhes que, até a véspera, ainda estavam em aberto. Pode ser um epílogo. Mas pode ser mais um capítulo desta longa novela latino-europeia.