Foi uma eleição renhida porque, apesar de ser considerado "unplugged" (fora da tomada, na acepção de certa calma no ritmo de vida), o Uruguai não está fora do mundo. Até o anúncio das projeções de resultado, ninguém sabia quem poderia ser o vencedor.
Ganhou Yamandú Orsi, com 49,84%, perdeu Álvaro Delgado, com 45,87%. Mas a maior vitória foi da democracia. Mesmo afirmando que seria "um dos discursos mais difíceis que terei de fazer em minha vida", Delgado disse:
— É preciso respeitar, sobre todas as coisas, a decisão soberana.
Atrás dele, uma tela mostrava em grandes letras a frase: "La coalición festeja la democracia".
A coalizão é o conjunto de cinco partidos que o apoiou.
Era claramente um momento difícil, porque até minutos antes, qualquer resultado era esperado. Não foi uma campanha com claro favorito. E poucos minutos depois da confirmação da vitória do oponente, o atual presidente, Luis Lacalle Pou, colocou-se à disposição para começar a transição.
No discurso de Delgado, o respeito ante a vitória do oponente não apareceu só por formalidade, foi repetido várias vezes, com ênfase:
— Podemos felicitar a quem ganhou, a quem teve a preferência, e fazê-lo com com sinceridade e de coração. Com desprendimento e um sentido muito republicano.
Em sua vez de falar, Orsi, um afilhado político do ex-presidente José "Pepe" Mujica, afirmou:
— Vou ser o o presidente que convoque com frequência o diálogo nacional (com a oposição), claro que com nossos planos, mas escutando. Além das diferenças, ninguém poderá ficar para trás do ponto de vista econômico, social e também político.
Não é por acaso que o Uruguai, que nesta eleição teve vitória da Frente Ampla, mas na anterior a do Partido Nacional, é considerado um dos países mais estáveis do continente. Detalhe: não tem reeleição. O mandato é de cinco anos, com possibilidade de que um ex-presidente volte a disputar o cargo.