Um dos trechos do relatório de 884 páginas da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado por muito mais do que "um general da reserva e meia dúzia de oficiais" traz revelações sobre o financiamento do 8 de janeiro.
Na página 720, aparece um personagem novo, Aparecido Portela, chamado de Tenente Portela, descrito como amigo de Bolsonaro desde "ambos serviram na cidade de Nioaque (MS), na década de 70".
Conforme os registros de entrada e saída de pessoas no Palácio do Alvorada, Portela fez ao menos 13 visitas a Bolsonaro só em dezembro de 2022. No dia 12 de janeiro de 2023, envia ao já ex-ajudante de ordens Mauro Cid mensagem em que afirma que "pessoal está em cima de mim aqui, infelizmente vou ter que devolver a parte desse pessoal, minha vida está um inferno".
Portela afirma a Cid que tentaria fazer a devolução de forma parcelada e que teria tentado obter um empréstimo consignado. Cid retorna dizendo que responderia via aplicativo Signal, considerado mais seguro contra vazamentos. Antes, o tenente confessa ao ex-ajudante de ordens a preocupação com a identificação de participantes de Mato Grosso do Sul nos atos antidemocráticos.
A PF avalia que "os diálogos demonstram a atuação do mesmo (Portela) como agente intermediário de arrecadação e financiamento de ações antidemocráticas que resultaram no episódio do 08/01/2023".
A conclusão da PF é de que Portela "atuou de forma direta na solicitação de arrecadação de recursos financeiros entre apoiadores do plano de ruptura do Estado Democrático de Direito". O relatório afirma, ainda, que "os investigados tinham confiança de que os atos antidemocráticos ocorridos no 08/01/2023 desencadeariam ações concretas das Forças Armadas para executar um golpe de Estado".
Leia mais na coluna de Marta Sfredo