O CEO da Ambipar ESG, Claudinei Elias, vê como "mais pragmática" a atual fase do cuidado social e ambiental nas empresas. A sigla faz parte do nome dessa divisão da Ambipar, que já nasceu com foco em transformação ecológica, que envolve descarbonização, economia circular, energia e regeneração ambiental. A agenda - que significa governança corporativa, social e ambiental - tem perdido protagonismo ante a dificuldade das empresas globais em gerar resultados financeiros. Elias afirma que o ESG não vai acabar: está em processo de "ressignificação".
Em que momento estamos da agenda ESG? Saiu de moda?
Estamos em momento menos aspiracional e mais pragmático. As empresas estão olhando para iniciativas mais voltadas ao resultado. É fato que as empresas mais estruturadas, hoje, não estão querendo simplesmente ter práticas. Há uma agenda altamente estratégica, especialmente para as empresas que têm uma grande exposição. Deixou de ser um assunto de prateleira para ser um assunto na agenda do conselho, do executivo.
De que forma?
Tem muita coisa bacana acontecendo em muitas áreas. Na indústria de transformação, por exemplo, há grandes iniciativas de mineração urbana, de circularidade. Também projetos ligados à valorização dos resíduos. Além disso, a governança tem sido vista como pilar para que essas coisas todas aconteçam. E ainda a visão de riscos e oportunidades, tanto do ponto de vista social quanto do ambiental. Diria que a mudança climática está entre os três riscos mais relevantes para qualquer organização, assim como os de cibersegurança, outros específicos dos mercados em que as empresas atuam e geopolíticos.
Em fase de maior dificuldade, a agenda ESG corre o risco de ficar em segundo plano, prevalecendo o fluxo de caixa?
A questão não é ficar em segundo plano. É uma questão de percepção. Temos de observar que certas iniciativas podem perder força, principalmente as mais próximas a uma camada superficial. Mas, para mim, continua sendo pilar central na estratégia da maioria das empresas. Então, a agenda EGS não perdeu relevância, mas houve ressignificação. As empresas estão mais experientes. O mercado mostra que são demandas relevantes. As empresas investem em projetos que sejam palpáveis, concretos, que tenham questões mais objetivas em relação ao retorno. Mudanças pontuais já não fazem projetos ESG caírem por terra, que passaram a ser mais concretos, robustos e estruturantes.
Não deveria ser o oposto, com a crise impulsionando a agenda ESG?
A emergência climática é uma grande condutora de transformação. É óbvio que as empresas precisam olhar as questões climáticas. Então, dependendo da crise, vemos movimentos para impulsionar o ESG. De novo, mais concretos e robustos. Empresas mais inteligentes estão querendo construir uma agenda de longo prazo, estratégica, que possa incrustar o assunto no negócio, e trazer retorno, inclusive para os acionistas. Apesar de falarmos hoje em um mundo de capitalismo consciente, o retorno para acionistas e colaboradores é relevante.
Qual o próximo passo da agenda ESG?
É preciso dizer que não é moda passageira. A pressão dos investidores, consumidores e reguladores segue aumentando e vai aumentar. Por outro lado, os acionistas também querem ter seu retorno. Então, começam a olhar para essa agenda de forma mais crítica, de risco e retorno. Não é só matemática, quanto de investimento e retorno, mas também o impacto que as ações geram.
Existe o desafio do retorno?
Mais do que nunca, e sempre vai existir. Essa ótica de risco, retorno e impacto, em vez de olhar só risco e retorno, é um caminho.
*Colaborou João Pedro Cecchini