Depois que o dólar cruzou outra vez a barreira psicológica de R$ 5,60, nesta sexta-feira (30) o Banco Central (BC) fez a primeira intervenção no mercado de câmbio desde abril de 2022 e única no mandato de Luiz Inácio Lula da Silva até agora: um leilão extraordinário de US$ 1,5 bilhão.
Isso não havia ocorrido quando o câmbio se aproximou do patamar de R$ 5,80. O movimento que ocorreu logo depois da indicação formal de Gabriel Galípolo rendeu especulações - fora do mercado financeiro - sobre a possibilidade de o escolhido já estar tomando decisões.
No mercado, isso não ocorreu por saber que ninguém assume o comando do BC sem formalização e por conhecer bem o motivo da rara intervenção. E a despeito do leilão, o dólar segue em alta, ainda que mais discreta, de 0,7%, para R$ 5,656.
Conforme analistas, o ainda presidente do BC, Roberto Campos Neto, também não mudou de discurso. Em julho, havia afirmado que não havia "disfuncionalidade" que justificasse uma intervenção.
Agora, no entanto, há fatores técnicos que dariam sustentação ao movimento: uma mudança na carteira de papéis de empresas brasileiras cotados em dólar e a formação de um preço de câmbio muito usado, o Ptax de setembro, por ser o último dia útil de agosto.
A mudança na carteira implica venda de reais para compra de papéis em dólar, o que provoca um fluxo maior cujo resultado é uma aparente "corrida" à moeda americana. A formação do Ptax embute disputa entre quem tem apostas diferentes sobre o futuro da cotação.
Em entrevista ao veículo internacional Central Banking (veja aqui), Campos Neto afirmou que o consenso do Comitê de Política Monetária (Copom) tem contrariado a "narrativa" de que o governo tentaria influenciar as decisões do BC.
— Não está refletida nos fatos — disse, ponderando que a unanimidade nas últimas duas reuniões deixou para trás a percepção de uma divisão política.
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