A recessão na Argentina é marcada pela queda de 5,1% no PIB do primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2023 e 2,6% ante o período anterior de três meses. O cenário é agravado pelos 263,5% de inflação acumulada nos últimos 12 meses. Os dados são de um órgão federal oficial, o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), equivalente ao IBGE no Brasil.
Nesta semana, o país voltou a discutir a "reestruturação" (eufemismo para moratória) da dívida. Na terça-feira (27), o vice-presidente da agência de risco Moody's, Jaime Reusche, disse que o mercado financeiro considera "pouco provável" que a Argentina cumpra os compromissos com os credores.
Nas ruas de Buenos Aires, há imagens que expõem a crise - fila para comprar ovos no bairro de classe média alta de Palermo e aumento do número de pedintes nas ruas. Também existem sinais de resiliência - não há lojas fechadas na Santa Fé, uma das avenidas mais longas e mais comerciais da capital, e as luzes da Corrientes, uma passarela de espetáculos, seguem feéricas.
A fila dos ovos é um sintoma da inflação descontrolada. Um dos efeitos colaterais é a dispersão de preços, ou seja, um produto pode custar 140 mil pesos (cerca de US$ 10 ou R$ 55) em algum lugar, metade disso em outro e o dobro em um terceiro.
As lojas que seguem abertas na Santa Fé e em várias outras ruas de bairros são, por outra parte, mostra da resistência a uma situação de pesadelo, com preços descontrolados, salários defasados e aumentos dramáticos de serviços públicos que estavam artificialmente baixos por subsídios que exauriam o orçamento federal e foram cortados pelo governo Milei.
Segundo Reusche, "é um momento bastante complicado devido ao aumento dos pagamentos de bônus externos". Vencem neste ano, detalhou, cerca de US$ 2 bilhões, e no próximo, US$ 5 bilhões.
Afirmou, ainda, que a "resistência do governo em desvalorizar" (ainda mais...) é uma das razões pelas quais o risco país não baixa do nível de 1.500 pontos.