Depois da frase da véspera que fez o dólar recuar uma barreira psicológica, outra caiu já no início da manhã desta quinta-feira (4). Com pouco tempo de negociação, a cotação já cai 1,77%, para R$ 5,47.
O principal motor da aceleração da queda é o anúncio feito na noite de quarta-feira (4) pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que haverá cortes de R$ 25,9 bilhões nas despesas públicas em 2025, que poderão começar a ser executados já neste ano se houver necessidade.
O valor veio perto das máximas das estimativas, que variavam entre R$ 15 bilhões a R$ 30 bilhões. Dá sustentação numérica à frase de Haddad atribuída a Lula, que de o "arcabouço (fiscal) será preservado a todo custo".
Como Haddad entregou a quantia, mas não detalhou como será obtida, agora economistas debatem se a cifra é viável. Como se esperava depois que Lula barrou publicamente algumas iniciativas, como a desvinculação do salário mínimo, mencionou apenas que haverá um pente-fino em benefícios sociais.
Como há ceticismo sobre a possibilidade de alcançar economia de R$ 25,9 bilhões apenas com pente-fino, o que se especula, agora, é uma desvinculação parcial dos benefícios previdenciários do salário mínimo. A fórmula contemplaria a atualização de aposentadorias pela inflação, para não haver perda do poder de compra, mas não incluiria aumento real.
Atualmente, a fórmula de reajuste voltou a ser a que vigorava nos governos anteriores do PT: INPC mais a variação do PIB de dois anos antes. A correção pelo percentual total dessa combinação está pressionando os gastos da Previdência. Em maio deste ano, as despesas do segmento chegaram a R$ 930 bilhões em maio, ante R$ 819 bilhões de maio de 2023, com valor corrigido pela inflação. É um crescimento interaual de 12% em 12 meses, três vezes maior do que a inflação (3,93% até maio).
Os fatores de pressão no mercado
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção. Sinalizações de cortes de gastos nos últimos dias chegaram a proporcionar algum alívio, mas não duradouro.
Conflitos e eleições pelo mundo: conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hammas elevam incertezas, assim como eleições. Na França, a extrema -direita "antieuropeísta" venceu o primeiro turno e acentuou a dúvida sobre a posição do país que é "sócio-fundador" da União Europeia, com risco potencial para a existência do bloco. Desde o mais recente debate entre os candidatos à presidência dos EUA, o "risco Trump" também tem aparecido no radar do mercado.