Uma frase do presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, provoca inquietação no mercado. O dólar, que já vinha subindo, acentuou o movimento (0,24%, para R$ 5,64), e o mesmo ocorre com a baixa na bolsa (-0,4%).
Nada dramático, mas é um ruído extra no dia em que o mercado esperava abrir já com o detalhamento no corte de R$ 15 bilhões, mas ainda espera a definição. Aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Josué afirmou que uma eventual perda da autonomia do Banco Central (BC) será culpa exclusiva do presidente do banco, Roberto Campos Neto.
— Ele politiza quando aceita ser homenageado ainda no cargo de presidente do BC — afirmou o presidente da Fiesp durante encontro com jornalistas, referindo-se ao jantar em homenagem a Campos Neto oferecido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Para Josué, Campos Neto também politiza ao "sinalizar que vai aumentar a taxa de juro em evento no Exterior". Para o presidente da Fiesp, essa atitude teria "desmontado o forward guidance (indicação dos próximos passos da política monetária) sem combinar com seus diretores.
Embora existe um debate sobre a necessidade de voltar a elevar a Selic, há consenso de que isso não deve ocorrer no curto prazo. O risco de que o governo Lula venha a propor o fim da autonomia é o que move indicadores, como bolsa e dólar, toda vez que o cidadão presidente da República critica o cidadão presidente do BC.
É uma hipótese pouco provável por vários motivos. O primeiro é que será difícil mudar essa legislação no Congresso. O segundo é que não traria benefício líquido para Lula ou o PT, porque o mandato de Campos Neto termina em cinco meses e, caso caia a autonomia, o do indicado de Lula terminaria em dois anos, em vez de quatro.
O próprio presidente da Fiesp disse não acreditar que isso venha a acontecer. Mas a pergunta que não quer calar é por que levantar esse assunto às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), da qual se espera um comunicado bastante duro sobre a política fiscal?
Os fatores de pressão no mercado
Queda nas commodities: nos últimos dias, houve redução nos preços de matérias-primas básicas. Para o Brasil, significa menos receita em dólares, embora o país siga com sólida projeção de saldo positivo na balança comercial.
Demora no início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: o anúncio de cortes já neste ano e planejamento antecipado de redução de despesas para o próximo ano chegou a proporcionar algum alívio, mas não duradouro. Ainda há forte ceticismo de que o governo vai entregar o resultado dentro da meta ou da margem de tolerância de 0,25% do PIB.
Conflitos e eleições pelo mundo: conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hammas elevam incertezas, assim como eleições. A dúvida sobre a eleição nos EUA aumentou com a desistência de Joe Biden e sua virtual substituição por Kamala Harris.