Uma das mais antigas concessões de fornecimento de água e tratamento de esgoto à iniciativa privada do Rio Grande do Sul vai completar 12 anos em maio. A São Gabriel Saneamento (SGS) atende desde 2012 o município de mesmo nome.
Desde o final do ano passado, está sob controle da Norte Saneamento, que se uniu à anterior, a Solví. A nova dona, por sua vez, pertence a um fundo criado em 2021 para investir em operações de cidades brasileiras de pequeno e médio porte.
— Saneamento no Rio Grande do Sul é um bom negócio — diz Luiz Luis Antonio Bertazzo, diretor da SGS.
A empresa foi constituída depois de uma licitação da prefeitura de São Gabriel. No início, tinha tarifa cerca de 15% abaixo da média dos municípios atendidos pela Corsan, atualmente sob controle da Aegea.
Hoje, segundo Bertazzo, está 30% abaixo dessa média, com reajustes definidos pelo IPC-Fipe, um dos mais antigos indicadores de inflação do Brasil. E atua com pessoas e fornecedores locais e sem terceirizados, frisa.
— Uma coisa que a gente faz questão de fazer é ouvir o usuário. A pessoa pode não sair feliz, se tem um problema, mas não sai furiosa — relata, admitindo que essa tática só é viável em municípios de até 100 mil habitantes.
Bertazzo avisa que a Norte vai disputar concessões municipais de saneamento baseada em experiências positivas como a da SGS - investiu cerca R$ 90 milhões, dos quais R$ 68 milhões em esgoto, em rede que já chega a 114 quilômetros. Mas o foco não vai ser no Estado onde a atividade "é bom negócio".
— Como é bom, é muito disputado. A preferência da Norte é por editais de outorga fixa e disputa por redução de tarifa, por entender que esse critério atende maior número de moradores do município — detalha.
Bertazzo não diz, mas sinaliza que a estratégia é descartar processos de licitação focados em obter maior valor de outorga, modelo que prevê mais recursos para o caixa do município. O gestor considera "cumprível" o prazo previsto no marco do saneamento, que prevê 90% das residências com coleta e tratamento de esgoto até 2033.
— Mas só se iniciativas forem tomadas na próxima janela de mandato. Não vai ter a tolerância que houve com a política nacional de resíduos sólidos (que já teve vários prazos adiados), porque esse segmento representa apenas 3% do investimento necessário para universalizar o saneamento, esse sim uma mola para a atividade econômica, com ganhos sociais e ambientais.
Bertazzo, que tem viajado pela Região Norte, diz que um dos cenários mais tristes no Brasil não está nem onde falta água porque falta só capacidade de armazenamento - como no Rio Grande do Sul em períodos de estiagem.
— Pior é a situação de algumas cidades de Roraima, rodeadas de água sem qualidade para consumo humano — diagnostica.