O efeito acumulado de tensão geopolítica no Oriente Médio, adiamento sem data prevista do início dos cortes de juro nos Estados Unidos e mudança na meta fiscal no Brasil fez preço: o boletim Focus distribuído nesta terça-feira (23) pelo Banco Central (BC) traz nova projeção predominante para a Selic em dezembro: 9,5%. Até 15 dias atrás, estava cravada em 9%.
Esse é o custo da incerteza até agora: 0,5 ponto percentual. Os financiamentos a pessoas e empresas não terão toda a redução de custo esperada e a dívida pública brasileira terá menos alívio com a manutenção em nível elevado do principal indexador.
E não está descartada a possibilidade de que essa projeção ainda suba nas próximas semanas, porque muitos economistas já elevaram as estimativas de Selic para 9,75% no final do ano.
Claro, não se deve descartar também a hipótese de que a expectativa volte a melhorar e cortes mais pronunciados surjam no horizonte, mas neste momento não é o cenário considerado mais provável.
Até porque parte dos motivos para a mudança na projeção para o juro vem de outra alteração: a do crescimento da economia. É a segunda maior alteração semanal no Focus: a estimativa para a alta do PIB foi de 1,95% para 2,02%. Com atividade mais forte, economistas costumam prever aumento na inflação de serviços, o que faria o BC ter mais cautela na redução do juro.
É apenas coincidência, mas a revisão é igual ao corte de 0,5 ponto percentual que já estava "prometido" para o dia 8 de maio, data de conclusão da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que define a taxa de referência.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, já avisou que não há mais qualquer certeza sobre a próxima decisão do Copom: a previsão de corte de 10,75% para 10,25% agora exigiria "redução da incerteza", o que ainda não está dado. Ainda assim, a contenção das réplicas e tréplicas de ataques entre Irã e Israel mantém até agora a expectativa de "incerteza elevada", mas não dramática, o que daria conforto a uma poda de ao menos 0,25 ponto percentual, de 10,75% para 10,5%.
Mas é importante observar que ainda há espaço para cortes. Entre os prováveis 10,5% de maio e os atuais 9,5% do "consenso do mercado", ainda sobra um ponto percentual inteiro a ser desbastado da Selic. Ainda que haja novas calibragens das expectativas para 9,75%, faltaria ajustar 0,75 ponto percentual. Ficou mais caro. Mas ainda haverá algum alívio.