O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
Se mesmo com as oscilações, a pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) considera o desempenho das pequenas indústrias "relativamente positivo" em 2023, quando o assunto é a condição financeira destes negócios, a mesma base de dados não aponta melhoras significativas na última década. Entre os motivos, o destaque é a dificuldade de acesso ao crédito.
Em seguida, vem a elevada carga tributária, disparado o problema mais apontado pelos empresários. A economista da CNI, Paula Verlangeiro lembra que os empreendimentos de menor porte tendem a ser mais penalizados com os solavancos econômicos. É o caso da política monetária e da recente manutenção dos juros a 13,75% ao ano por 12 meses até agosto passado.
No ano passado, com o aumento da inadimplência, os bancos adotaram critérios mais rígidos para concessão de crédito, como exigir mais garantias, oferecer prazos menores e, inclusive, custos maiores. No segundo semestre do ano, o Banco Central começou a reduzir a taxa básica de juros, 0,5 ponto percentual em cada uma das quatro reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).
Embora a medida não produza efeitos imediatos para as pequenas empresas, já melhora a expectativa dos empresários, refletida no Índice de Situação Financeira, que apresentou aumento e fechou o ano com 42,2 pontos.
Diante de cenários moldados por juros elevados, há cada vez menos disponibilidade de recursos para lidar com eventuais problemas, explica Paula ao ressaltar que a década passada não foi fácil para as MPEs industriais.
Entre 2013 e 2023, por exemplo, os pequenos empresários dos setores de construção e de transformação amargaram 40 trimestres com falta de acesso ao crédito. O índice também ficou abaixo da média histórica em 21 dos 40 trimestres para a indústria de transformação.
Em 2016, o Índice de Situação Financeira marcou o pior resultado com 29,5 pontos, reflexo do aumento das taxas de juros, que atingiram o maior patamar do período no terceiro trimestre de 2015, 14,25% ao ano. De 2015 a 2019, o indicador teve altas e baixas, mas sempre se manteve abaixo do referencial histórico.
Só em meados de 2020 houve recuperação e superação do marco (43,1 pontos). Um dos motivos foi a criação dos programas de apoio e incentivo às MPEs para superar a crise de covid-19. Entre os exemplos, estão o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e o Programa Emergencial de Acesso a Crédito (Peac).
Ainda assim, o Índice de Situação Financeira nunca alcançou os 50 pontos, o delimitador que separa avaliações favoráveis das desfavoráveis. Isso se deve, conforme a economista da CNI, Paula Verlangeiro, pela dificuldade de acesso ao crédito percebida em todos os segmentos.