A despedida da vida de Luiza Trajano Donato, aos 97 anos, não deixa como legado apenas um gigante do varejo, o Magazine Luiza, hoje já mais conhecido como Magalu. O que fez a sábia Luiza imprimir sua digital no mundo dos negócios também foi o processo de sucessão.
A empresa tinha seu nome, claro, mas quantas empresas com nomes de mulher são comandadas apenas por homens? Na virada entre as décadas de 1980 e 1990, portanto no século passado, quando a liderança feminina era ainda mais rara do que é hoje, a Luiza tia tomou uma decisão corajosa ao entregar a chave do grupo à sobrinha Luiza Helena.
Se Luiza, a tia, com o marido Pelegrino José Donato (falecido em 2018), criou um magazine em 1957 e abriu o caminho, foi a sobrinha que transformou a Magalu no que é é hoje, uma das maiores varejistas do país.
Obviamente, é uma companhia com altos e baixos, que oscila ao ritmo da volátil economia brasileira, mas ainda assim uma gigante. E Luiza, tão sabiamente quanto a tia, não escolheu gênero na sua sucessão. Passou ao filho Frederico, com naturalidade. A questão, aqui, não é o gênero.
A questão é que até agora, com o século 21 já bem embalado em sua terceira década, a passagem de um negócio de pai para filha ainda vira notícia. Não deveria ser. Luiza Helena tem consciência disso. Por isso criou o grupo Mulheres do Brasil, que não tem só dirigentes de empresa.
Com sua potência, ajudou a tirar o tema da violência doméstica das sombras, por meio da campanha "Em briga de marido e mulher, tem que meter a colher, sim. Ligue 180 e denuncie". E ajudou a empoderar - essa palavra que muitos desprezam por não compreender o esforço que custa ser pronunciada por quem nunca pôde nada antes - milhares de mulheres pelo Brasil. Esse grupo, além de viver com mais autonomia e liberdade, contribui com a economia. Gênero só importa quando é barreira que atrasa e limita.