Se o Brasil passa por momentos que seriam inverossímeis em uma obra de ficção, o que acaba de ocorrer na OpenAI, dona do ChatGPT, seria considerado absurdo se fosse relatado em livro ou filme, por mais "baseado em fatos reais" que fosse.
Em seis dias, o CEO da OpenAi, Sam Altman, foi demitido, contratado pela Microsoft - que também investiu no ChatGPT - e recontratado pela empresa que o havia dispensado, depois que 700 dos 770 funcionários ameaçaram sair da empresa caso ele não voltasse.
É tão incrível que parece história inventada. Mas não é. No mundo corporativo, os episódios podem ser vistos apenas como reflexos de desentendimento entre o conselho de administração da OpenAi e o seu principal executivo. No universo científico, porém, a inacreditável sucessão de reviravoltas significa que o "momento Oppenheimer" pode ter chegado antes do previsto para os criadores da inteligência artificial.
A expressão se refere ao fato de que um dos responsáveis pelo desenvolvimento da bomba atômica passou o resto da vida lutando pela limitação desse instrumento de morte. Como a coluna relatou na época, Sam Altman foi uma das pessoas que assinaram o alerta mais dramático sobre os riscos da inteligência artificial para o futuro da humanidade. O comunicado tinha apenas uma frase:
"Mitigar o risco de extinção pela inteligência artificial deve ser uma prioridade global, ao lado de outros riscos em escala social, como pandemias e guerra nuclear (clique para ver o original em inglês)".
O que Alman e outros profissionais ligados ao desenvolvimento científico e tecnológico estão alertando que é uma corrida sem freio pela "next big thing" - sempre uma obsessão nesse meio - pode ser perigosa, no caso da inteligência artificial. O que pregam não é barrar pesquisas nem negar acesso público aos avançar, mas fixar limites antes que asa máquinas aprendam a "pensar" e a humanidade se torne supérflua. É por isso que sua volta à OpenAI é vista com alívio: ao menos, a corrida à próxima grande novidade será acompanhada de algum limite ético. Ao menos, por enquanto.