A teoria dos jogos e a economia comportamental, premiadas com o Nobel na história recente, devem aos prêmios parte de seu ganho de importância no debate global.
Agora, a expectativa é saber se a escolha de Claudia Goldin, que focou seu trabalho na desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho, ajudará a reduzir as lacunas também nesse campo.
A jornalista que assina esta coluna já teve de confirmar para um homem italiano incrédulo que, sim, a diferença salarial entre pessoas ocupando a mesma função no Brasil chega - em média - a 22%. Isso significa que uma mulher que exercer exatamente a mesma atividade que um homem ganha em média apenas 78% do salário do colega.
Só a escolha de Claudia já presta um serviço à causa da equidade de gênero - as pessoas não são "iguais", mas devem ser tratadas da mesma forma. Antes dela, apenas duas mulheres havia recebido a distinção: Elinor Ostrom, em 2009 e Esther Duflo, em 2019. Ou seja, o primeiro Nobel para uma mulher tem apenas 14 anos. E ela já havia aberto caminhos por ter sido a primeira mulher a assumir o posto de professora titular da faculdade de economia da Universidade de Harvard em 1990.
Insatisfeita com o argumento do "preconceito", a economista aprofundou o estudo das causas da falta de equidade e apontou cinco pontos, entre causas, soluções e surpresas:
Disponibilidade: a cultura corporativa de premiar quem está sempre disponível - à noite, nos fins de semana, nas férias - compromete a carreira das mulheres que, culturalmente, assumem mais compromissos com a família.
Maternidade: conforme o levantamento, a diferença salarial aumenta depois do nascimento do primeiro filho, porque a mulher sai em licença, reduz a jornada de trabalho e, muitas vezes, troca para um emprego com mais flexibilidade, abrindo mão de remuneração.
Flexibilidade: uma constatação é de que a oferta de jornadas flexíveis nas empresas ajuda a reduzir os prejuízos às mulheres, estimulando os homens a também assumir o papel de cuidado na família.
Pílula: o anticoncepcional permitiu planejar família e carreira. Segundo o estudo, nos EUA o percentual de mulheres nos cursos universitários aumentou de 10% em 1970 para 36% em 1980, enquanto as universitárias passaram a se casar mais tarde. Enquanto 50% das nascidas em 1950 se casaram antes dos 23 anos, só 30% das nascidas em 1957 fez o mesmo.
Desenvolvimento: o crescimento global não ajudou a reduzir a desigualdade salarial entre os gêneros. A proporção de mulheres no trabalho do século 18 é semelhante à final do 20 - ou seja, até 1999.