O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
Em meio aos eventuais equívocos de avaliação relatados por pessoas próximas para justificar a ausência do presidente Lula no Estado para prestar solidariedade às vítimas das enxurradas, a razão é a mesma usada por ministros durante a Expointer na semana passada. É que Lula embarcaria, na quinta-feira (7), para Nova Delhi, na Índia, onde – durante o encontro das 19 principais economias do mundo e a União Europeia – participa de cerimônia simbólica para que o Brasil assuma a presidência G20, pela primeira vez, em dezembro deste ano.
Antes, entretanto, seria indicado, mais uma vez, dar uma boa olhada para o Rio Grande do Sul. Isso porque até o dia 10, a 18ª Cúpula do G20 terá pelo menos três sessões temáticas sobre desenvolvimento verde sustentável, meio ambiente e clima, transições energéticas e emissão zero líquida de carbono.
O detalhe é que para liderar os assuntos em esfera mundial ainda há muito o que fazer da porteira para dentro. Um exemplo? A coluna explica: atualmente, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pouco mais de 55% das fontes que compõem a matriz elétrica brasileira ligada ao Sistema Interligado Nacional (SIN) são hídricas. Eólicas correspondem a 13,7% e solar, a 5,3%.
De acordo com dados do Grupo Temático (GT) de Energia e Telecomunicações do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), as demais se dividem entre térmicas, geração distribuída e nuclear.
No RS, o percentual de hídricas é um pouco superior, 57%. O potencial eólico (vento) no RS é 245 gigawatts (GW) – sem contabilizar a capacidade em alto mar que carece de regulamentação – e a potência instalada em operação no RS é de apenas 1.836 megawatts (MW), ou seja, não atinge sequer 1%. O fato está diretamente relacionado com a segurança energética do SIN.
O tema já despertava interesse no setor industrial e foi intensificado a partir do apagão que afetou 25 Estados no mês passado. Segundo o coordenador do GT na Fiergs, Edilson Deitos, além de alternativas hídricas como as novas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), que podem armazenar água para usos múltiplos e maior flexibilidade para produzir energia, existem projetos eólicos em tramitação à espera de aprovação. São 65 no total, em 31 municípios gaúchos. Juntos, somam 18,1 GW em geração eólica. E o melhor: mais da metade já possui licença de instalação ou prévia.
Além disso, as redes de transmissão que conectarão esses parques ao SIN estão concluídas ou em fase final. Mas, o que falta? Deitos responde: é a ausência de igualdade de condições de financiamento o fator responsável por impedir a celeridade em implantar soluções que preservem o sistema de sobrecargas.
Ele lembra que o apagão foi ocasionado, justamente, por uma sobrecarga na linha de transmissão do Nordeste para o Sudeste e o Sul. Com o reequilíbrio na geração, o RS que, hoje, importa cerca de 30% do da energia poderia ser alçado à exportador, sem falar na redução de custos e desperdícios. E, para isso, não seria preciso investir um centavo. Bastaria equalizar os incentivos que hoje tornam a execução de um projeto no Sul cerca de 50% mais caro do que um semelhante no já sobrecarregado Nordeste, em razão dos juros do financiamento. Uma boa sugestão de debate para a Índia ou para o retorno ao Brasil.
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