Como o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) surpreendeu governo, empresários e até mercado financeiro, há grande expectativa sobre a ata - um relato mais detalhado sobre como a atual diretoria da instituição vê um eventual ciclo de baixa do juro básico - que será publicada na terça-feira (27).
Mas esse não é o único suspense ligado ao tema na semana: na quinta-feira (29), ocorre a esperada reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) que vai discutir a meta de inflação, ou seja, qual o limite de alta de preços que o BC tem de mirar ao definir a taxa Selic.
Como o BC, desta vez, atuou para confundir, em vez de esclarecer, os ânimos estão exaltados, a ponto de um ex-presidente, Affonso Celso Pastore, ter apontado "ataque à instituição" nas críticas dirigidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus ministros - como fez questão de acrescentar.
É que, desta vez, até Fernando Haddad, da Economia, que atuava como mediador de relações respeitosas entre governo e BC, saiu do discurso conciliador. Disse que o comunicado foi "muito ruim" e contratou "problema futuro", sob a forma de inflação ou aumento de carga tributária.
Ainda sob risco de um repique na cotação do petróleo, por conta do ensaio de golpe na Rússia, a semana no mercado financeiro promete emoções mais fortes e negativas do que as da semana passada. Ainda mais novas dúvidas que surgiram sobre a reunião do CMN e a polêmica mudança no sistema de meta de inflação. Vai haver alguma, disso já se sabe. Do ponto de vista mais ortodoxo, a mais provável é a simples oficialização do que o BC já faz: não haveria mais exigência formal de cumprimento do objetivo dentro do ano.
Mas exatamente por representar apenas a confirmação formal de uma prática - admitida pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, ao dizer que, se quisesse cumprir a meta no ano, a Selic teria ido a 26,5% -, não se sabe se vai parar por aí. Mesmo economistas ortodoxos consideram a meta para os próximos anos, de 3%, muito baixa para um país como o Brasil, que não pode cortar despesas de forma brusca por restrições legais.
Sem contar que esse patamar foi previsto - antes da pandemia e de seus efeitos sobre a cadeia global de suprimentos - é adotado nos anos que se seguiram a uma das mais desafiadoras situações de controle de preço para o mundo inteiro. O problema é que, na lógica do regime do BC, se a meta é mais baixa, significa que o BC tem de manter o juro alto por mais tempo para alcançá-la.