A "implosão catastrófica" - ou seja, não controlada - do submersível Titan custou cinco vidas. Para chegar a essa triste constatação, foi necessário dispender elevados recursos públicos porque cinco pessoas decidiram, por sua própria conta, correr riscos privados, a um custo de cerca de US$ 250 mil - ou quase R$ 1 milhão - por pessoa.
No país que há pouco mais de 20 dias passou pelo desconforto de elevar o teto da dívida pública com custo de cortes em despesas públicas - apesar de ser rico e ter a máquina de imprimir dólares - é o debate que se seguiu ao desfecho trágico.
Além dos Estados Unidos, que mobilizou a Marinha e a Guarda Costeira - dois órgãos sustentados pelos contribuintes -, o Canadá também contribui nos esforços que exigiram ao menos um submarino, aeronaves e sonares em miniatura, além de pessoal de operações, controle e comando, para as buscas ao submersível.
Ao jornal The New York Times, o diretor-executivo da Associação Nacional de Busca e Resgate, Chris Boyer, disse que tudo isso "provavelmente custou milhões" de dólares. Até a França enviou um robô capaz de mergulhar a grandes profundidades para tentar localizar e, idealmente, salvar os tripulantes do submersível.
É bom lembrar que, nos Estados Unidos, não há sistema universal de assistência à saúde, como no Brasil, no Canadá e no Reino Unido. Ou o cidadão tem cobertura de um plano de saúde, geralmente corporativo, ou tem de pagar pelo atendimento. Ou seja, não são empregados recursos públicos para salvar vidas facilmente localizáveis, a maioria das quais não se engajou em uma atividade de altíssimo risco para necessitar de cuidados.
Os cinco passageiros do Titan tiveram de assinar um termo de responsabilidade para entrar em um cubículo cuja porta só abria pelo lado de fora e era dirigido por um sistema pouco diferente do controle de um videogame - para não citar outras condições imprudentes. Ao menos três eram bilionários.
Outros acreditaram que era uma forma de obter mais informações sobre o naufrágio do Titanic. Mas, convenhamos, seguiam mais uma obsessão pessoal do que uma legítima busca de conhecimento para melhorar tecnologias atuais ou futuras, caso das viagens ao espaço. Agora, o que se busca saber é se fizeram, também, algum tipo de seguro capaz de devolver, a menos em parte, os gastos financiados por quem não tem fortunas para dispender com aventuras extremas.
É uma boa lição para o Brasil: há um risco imenso em tolerar - ou até incentivar - atividades privadas que só socializam prejuízo ou ineficiência - e por aventuras extremas não se deve entender apenas mergulhos a quatro quilômetros de profundidade. É uma discussão muito pertinente enquanto avança a tramitação da reforma tributária.