Quando já se discutia como faria para rearranjar uma Esplanada com 37 ministérios em apenas 23 pastas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva peitou Arthur Lira (PP-AL) e conseguiu aprovar mudanças ruins na estrutura de seu governo, com relativa folga.
Vitória? Além de desfigurado pelo Centrão, o governo que sai da batalha mais renhida na Câmara até agora está desgastado antes de completar seis meses. E Lula já não tem as credenciais com as quais sonhava para atuar como "líder mundial".
As perdas de poder dos ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas foram carimbadas, resultado de um misto quente - a ponto de chamuscar reputações - de fogo amigo e capitulação ao fato de que a oposição tem maioria confortável na Câmara e só aprovará o que quiser.
E acabou virando o "menos ruim", diante do risco real de ser obrigado a uma reforma ministerial forçada, que além de reduzir o número de pastas - o menor dos problemas - deixaria sem função o vice-presidente Geraldo Alckmin e a aliada decisiva para a sua eleição, Simone Tebet.
Se é verdade que o governo foi emparedado por Lira e sua trupe em busca de mais poder e liberação de emendas, também é que Lula abusou da liberdade de errar. O que poderia ter sido um conserto - retomar relações diplomáticas e comerciais com a Venezuela, equivocadamente rompidas no governo anterior - virou um duplo erro. Mais do que salamaleques simbólicos como a subida da rampa do presidente Nicolás Maduro, que poderiam gerar imagens fortes, mas se dissolveriam sem o peso das palavras, Lula fez questão de carimbar o apoio ao autocrata com palavras - muitas.
Além de ser contraditado à direita - pelo presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou - e à esquerda - pelo presidente do Chile, Gabriel Boric -, desgastou sua imagem internacional ao atribuir as críticas ao comando ditatorial de Maduro a uma "narrativa". Boric lembrou o que todo jornalista, todos os dias, precisa lembrar: todos têm direito a ter suas opiniões, mas sem alterar os fatos: “Não é uma construção narrativa. É uma realidade”.
E se não havia reagiu até agora ao risco de fratura de dois pilares do novo governo do Brasil - o respeito ao ambiente e aos primeiros habitantes do território, fundamentais na campanha eleitoral -, o mundo já olha Lula de outra forma depois dos afagos a Maduro. Sem disputar uma nova reeleição, Lula pode estar inaugurando um quarto mandato depois de apenas cinco meses do terceiro mandato. Será preciso observar com quem subirá a rampa desta vez.