Na edição de abril da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores gaúchos (PEIC-RS), feita pela Fecomércio-RS como parte do trabalho da Confederação Nacional da Indústria (CNC) houve até ligeira redução no percentual de famílias com contas em atraso em relação a março (41,4%), mas segue elevado, em 40,5%.
Apesar da relativa redução, o patamar do indicador segue muito acima de abril de 2022, quando era de 36,5% e, na avaliação da entidade, indica a persistência das dificuldades em manter as contas em dia, sobretudo para famílias com renda menor.
O dado ainda é mais preocupante porque o endividamento geral, que inclui pendências com pagamentos em dia, teve redução. Em abril, o percentual de famílias endividadas foi de 91,9%, enquanto era de 96,5% no mesmo mês do ano passado. Isso quer dizer que, embora o nível de busca por crédito esteja menor, as dificuldades de manter a quitação em dia aumentou.
Conforme a pesquisa, 25,1% das famílias se consideram “muito endividadas”, ante 23,5% em abril de 2022. O maior peso do endividamento no orçamento das famílias fica claro no indicador que registra a parcela da renda comprometida com dívidas, que apesar de ter ficado estável nos últimos meses (27,4% no mês passado), está estacionada bem acima dos 20,1% registrados um ano atrás.
Chama atenção como o problema se concentra na baixa renda: nas famílias que ganham menos de 10 salários mínimos, 47% relatam ter dívidas (47,9% em março e 44,8% em abril de 2022), enquanto apenas 14,2% das famílias com renda acima desse patamar estão com orçamento comprometido com pendências (15,1% em março e 8,3% em abril de 2022).
Um dos motivos dessa situação é a elevação do juro básico e, em consequência, a do custo do crédito. Como a Selic saltou de 2% para 13,75% em pouco mais de um ano (17 meses para alcançar o patamar atual, onde está há quase um ano), as dívidas cresceram como bola de neve e passaram a exigir maior fatia da renda.
E apesar desse problema fácil de identificar e difícil de resolver, as famílias se esforçam para colocar as contas em dia. Houve queda no tempo médio com o pagamento atrasado de 39,6 dias em abril de 2022 para 34,5 dias no mês passado. A persistência na inadimplência (quando não se consegue pagar nenhuma parte das dívidas atrasadas nos próximos 30 dias) está na mínima histórica (1,7%), percentual que no mesmo período de 2022 já era baixo, de 2,4%. Entre os que tem conta atrasada, 58,7% afirmam que conseguirão pagar todas as contas atrasadas nos próximos 30 dias, ante 44,6% em abril de 2022.
— O cenário do crédito diante de juros altos e patamares elevados de inadimplência segue prescrevendo cautela. Com maior risco de não haver pagamento, a oferta de crédito fica mais restritiva e seletiva — observa o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn.