Em um país com vários terminais aéreos superlotados, um dos mais famosos está às moscas. E essa situação provoca, há meses, um debate sobre as soluções para o "abandono" do Galeão, formalmente Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro.
Privatizada em 2014, a estrutura foi ampliada para a Olimpíada de 2016, por R$ 2 bilhões. Foi arrematada por um consórcio formado por Odebrecht e Changi, de Cingapura, mas em 2017 a empresa brasileira - que depois pediu recuperação judicial - deixou a sociedade. No ano passado, a Changi anunciou a intenção de devolver a concessão que só venceria em 2039.
Em fevereiro deste ano, a empresa privada anunciou ter desistido de devolver o aeroporto. Desde então, os governos federais, estadual e municipal batem cabeça para encontrar uma solução. Já se falou em privatização conjunta de Galeão e Santos Dumont, para que a gestão permita equilíbrio entre a escassez de voos de um e a superlotação de outro. O Santos Dumont segue administrado pela estatal Infraero.
Outra alternativa, caso a Changi realmente insista em manter a concessão, seria reduzir os voos no Santos Dumont para repovoar o Galeão. Nesse caso, o aeroporto mais central do Rio ficaria apenas com as conexões de Brasília e a ponte aérea com São Paulo. Os gaúchos, por exemplo, teriam de gastar mais - tempo, dinheiro ou ambos - com transporte ao centro ou à Zona Sul do Rio. Em compensação, como hoje não há conexão entre o Salgado Filho e o Galeão, há uma opção a menos de conexões internacionais a partir de Porto Alegre.
Entre os motivos do desequilíbrio entre o uso dos aeroportos cariocas está a evidente maior comodidade das decolagens e aterrissagens no Santos Dumont, no centro da cidade, conectado a duas das maiores atrações - o Museu do Amanhã e o AquaRio - por VTL mas também, conforme informações de mercado, a tarifas mais altas cobradas no Galeão das companhias aéreas, o que eleva o custo da operação.
Nesta quinta-feira (27), está prevista uma reunião entre o governo federal e a Changi, para que a companhia manifeste definitivamente se quer manter ou não a concessão. A partir dessa posição, deve ser construída uma solução, que não descarta sequer algum tipo de intervenção federal no Galeão.
Quando considerou a devolução, a empresa apontou como causas a "concorrência predatória" do Santos Dumont e a queda no movimento de passageiros provocada pela pandemia. A queda na movimentação de passageiros de cerca de 16 milhões para 3,2 milhões em 2021 teria provocado passivo de R$ 7,5 bilhões na operação. Na época, o Salgado Filho negociou um reequilíbrio financeiro com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) que permitiu redução nas prestações devidas pela outorga.
No início do mês, a Infraero revisou a capacidade máxima do Santos Dumont, de 9,9 milhões de passageiros/ano, para 15,3 milhões - aumento de 54,5% -, depois que uma reportagem do jornal O Globo mostrou que o aeroporto havia operado em 2022 acima desse limite, com 10,17 milhões.