Entre o forte ingresso de divisas no Brasil e a expectativa de antecipação de corte no juro, a bolsa disparou 4,2% e o dólar testou a barreira psicológica de R$ 5 nesta terça-feira (11).
A moeda americana chegou a ser cotada abaixo de R$ 5 durante vários momentos do dia, mas acabou fechando acima por centésimos de centavo, em R$ 5,008, resultado de baixa de 1,15%.
O que animou investidores e especuladores na bolsa foi a desaceleração da inflação para 0,71% em março, confirmando a tendência desenhada pelo IPCA-15. Com menor velocidade e intensidade do aumento de preços, a inflação acumulada em 12 meses diminuiu de 5,6% para 4,65% - abaixo do teto (4,75%) para o ano. Em tese, com isso o Banco Central (BC) poderia acelerar o corte no juro básico.
O problema é que analistas projetam índices maiores a partir de junho, quando passa a vigorar a nova alíquota de valor fixo sobre a gasolina e outros combustíveis. Do ponto de vista do contribuinte, é aumento de tributo. Do ponto de vista do fisco, é recomposição de arrecadação, reduzida artificialmente com impacto nas contas públicas com finalidade eleitoreira para produzir uma deflação artificial.
Também ajudaram no bom humor do dia o apoio explícito de Lula ao marco fiscal de Haddad e a alta nos preços de commodities (matérias-primas como petróleo, minério de ferro e soja).
No caso do câmbio, o que ajudou foi o resultado líquido entre entrada e saída de dólares do Brasil: US$ 12,5 bilhões entre janeiro e março. É o maior para o período desde o primeiro trimestre de 2012, quando alcançou R$ 18,7 bilhões. E essa forte entrada de divisas não veio da especulação com dinheiro atraído pelo juro alto, que oferece grandes ganhos para estrangeiros que troquem suas moedas por real e ganhem em aplicações remuneradas pela Selic.
Quase todo o saldo positivo ter origem no comércio externo: conforme o Banco Central (BC), a conta comercial teve entrada de US$ 12,512 bilhões no período, enquanto o fluxo financeiro permaneceu estável nos primeiros três meses do ano, com ingresso limitado a US$ 12,1 milhões. A balança comercial brasileira teve superávit recorde de US$ 16,1 bilhões de janeiro a março. No lado financeiro, o que ajudou a baixar o câmbio foi o aumento de apostas favoráveis ao real no mercado futuro.
Em tese, a baixa do dólar ajuda a baixar a inflação, porque muitos preços de produtos, mesmo da cesta básica, são formados com base na moeda americana. Por outro lado, causa e consequência embutem uma ambivalência: com real mais forte, exportadores ganham menos com vendas ao Exterior. Ou seja, é um movimento autolimitante.
Esclarecimento: a coluna tem escala para usar os verbos "dispara" ou "despenca". É subjetivo, mas baseado em fatos & dados: oscilações diárias de até 3% ocorrem com certa frequência na bolsa brasileira. Acima, são raras. Por isso, os verbos mais "dramáticos", digamos, são reservados a variações acima de 3%.