Apresentado no final da segunda-feira (20), o plano de recuperação da Americanas jogou um balde de água fria nas expectativas dos credores já estressados. Na semana passada, havia surgido a especulação de que Jorge Paulo Lemann, o mais conhecido do trio de bilionários que tem a maior fatia da empresa, viria ao Brasil para negociar um aporte de R$ 12 bilhões da parte dos acionistas de referência para colher mais boa vontade para um corte nas dívidas.
No entanto, o plano veio com aporte de R$ 10 bilhões - abaixo do que já se previa - e cortes nas dívidas com bancos de até 80%, além da conversão de pendências em ações.
Outra cláusula malvista pela maioria dos credores é a que prevê pagamento antecipado de até R$ 2,5 bilhões para quem aceitar um desconto de ao menos 70% no valor da dívida. A partir desse corte, haveria o chamado "leilão reverso voluntário" - quem aceita menos para receber antes. Considerando . em que um pagamento antecipado de até R$ 2,5 bilhões seria destinado aos credores que toparem um desconto de ao menos 70% no valor da dívida.
Dado o poder de fogo financeiro dos acionistas de referência e a pulverização dos credores - há milhares de pequenos fornecedores pendurados na recuperação judicial -, a proposta é encarada como uma pressão incontornável para quem não pode esperar anos para receber, mesmo com grandes perdas. No comunicado, a empresa argumenta que pendências trabalhistas e de micro e pequenas empresas já teriam sido excluídos da recuperação judicial, mas a questão ainda está em disputa na Justiça.
Na tentativa de reduzir esse desequilíbrio, a Americanas propõe que fornecedores com dívida até R 12 mil, ou que aceitem R$ 12 mil como quitação integral, mesmo perdendo parte, sejam pagos imediatamente depois da homologação do plano.
Até a lista de ativos que a Americanas se dispôs a vender foi considerada insuficiente: a unidade de negócios Hortifruti Natural da Terra, a participação no Grupo Uni.Co - dono de marcas como Imaginarium e Puket - e um avião renderiam apenas R$ 2 bilhões ou R$ 3 bilhões diante do endividamento total de R$ 42,3 bilhões. A partir da apresentação, os credores têm 30 dias para se manifestar. Serão 30 dias barulhentos.