Na campanha e nos primeiros dias na Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva declarou que uma de suas tarefas era resgatar a dignidade do cargo, aviltada pelo antecessor.
Ao comandar ataques ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, chamando o ocupante do cargo de "esse cidadão", já havia comprometido a meta, mas nada comparável à entrevista de terça-feira (21), quando disse que, na época da prisão, queria "f.... Moro".
E se, em vez da prisão de suspeitos de planejar ataques a autoridades, no dia seguinte houvesse um atentado ao ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União Brasil-PR)? Até explicar que uma coisa é ressentimento com desejo de vingança e outra - muito diferente - uma ação orquestrada para alcançar esse objetivo, seu governo poderia simplesmente esboroar.
Nesse sentido, a ação da Polícia Federal foi exemplar: aliados ou de adversários do governo, todos têm direito à proteção e a tratamento isonômico. Nem sempre foi assim. As tentativas de associar a infeliz declaração de Lula ao suposto plano de ataque são igualmente equivocadas. Como dois erros não fazem um acerto, acendeu o sinal vermelho para presidente: pare antes de ficar pior.
Isso não quer dizer que Campos Neto seja inatacável, nem que Lula precisa ser o melhor amigo de Moro. Significa apenas que as críticas precisam ser feitas sobre ações e responsabilidades efetivas, não por origem da indicação ou em tom totalmente fora da chamada "liturgia do cargo". O Brasil já teve o bastante de quebra de dignidade, não precisa de mais.