A coluna ficou tão curiosa quanto os leitores sobre a origem do dirigível que vai sobrevoar Porto Alegre no final deste mês. Agora, já pode esclarecer como e por que nasceu esse equipamento que fará sua primeira viagem comercial na capital gaúcha.
O projeto nasceu em 1994 e exigiu investimento de R$ 100 milhões, contou à coluna Paulo Caleffi, presidente da Airship do Brasil. A empresa, explica, é ligada à Transportes Bertolini, que mesmo ligada ao grupo gaúcho de mesmo sobrenome, é um negócio com sede em Manaus (AM), que tem negócios de transporte fluvial, com oito portos na região.
— É a primeira vez que fazemos um voo comercial, e será em Porto Alegre. Temos autorização inicial para fazer publicidade. Até agora, só fizemos testes. E faço questão de dizer que tudo isso nasceu graças ao empresário gaúcho Irani Bertolini, que acreditou na ideia e fez um investimento de mais de R$ 100 milhões.
Segundo Caleffi, Bertolini foi o idealizador de um equipamento aéreo que pudesse atender às necessidades da Amazônia, com desafios logísticos consideráveis. Na origem, houve duas pesquisas: porque o dirigível foi criado e por que sumiu. A coluna nem precisou perguntar sobre o famigerado Hindenburg, que pegou fogo transportando passageiros sobre New Jersey (EUA), em 1937, um dos motivos do sumiço dessa opção.
— Usamos gás hélio, que não é inflamável. Nenhum país do Hemisfério Sul tem essa tecnologia. Decidimos construir um dirigível para carga, que transporte até 30 toneladas e não necessite de infraestrutura terrestre. Compramos um projeto que deixou de ser fabricado nos Estados Unidos e passamos a procurar empresas que suprissem a nossa unidade com produtos que já não eram mais fabricados — relata.
A Airship do Brasil foi instalada em São Carlos (SP) porque a universidade local forma engenheiros aeronáuticos, entre outras carreiras relacionadas. O modelo que vai sobrevoar Porto Alegre é o ADB-3-3, que transporta "apenas" uma tonelada de carga e foi certificado pela Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) em dezembro passado. No futuro, a empresa pretende desenvolver os modelos que transportem 18 e 30 toneladas.
— Não pretendemos concorrer com os demais modais, mas é preciso ter uma solução para transportar, por exemplo, pás de torres eólicas, ou permitam a instalação de torres de energia elétrica. Criamos um produto novo, diferente dos dirigíveis antigos, que eram rígidos. O nosso tem uma gôndola suspensa em envelope de gás hélio, que não é inflamável. Dentro, tem dois balonetes, um na dianteira e outro na traseira. Quando enchemos esses balonetes de ar, o hélio é comprimido e o dirigível desce. Quando esvaia, se expande e o ele sobe.
O dirigível pode permanecer no ar até seis meses sem precisar descer. Só usa combustível (querosene de aviação) para se locomover. Nesta sexta-feira, técnicos chegarão a Porto Alegre, depois de percorrer o caminho desde São Carlos para identificar pontos de pouso e reabastecimento, para escolher onde o dirigível vai pernoitar na capital gaúcha. Segundo Caleffi, há duas opções: o aeroclube de Belém Novo e o Jockey Club. A equipe já está trazendo torres para fixação do equipamento.
— Já estamos sendo prospectados por empresas de linhas de transmissão e de petróleo. Hoje, é preciso dividir uma torre de petróleo em 10 pedaços para transportar de helicóptero. Nosso equipamento de 30 toneladas poderá levar inteira. E agora estamos com pressa, porque há outros projetos de construção de dirigíveis em outros países. Queremos sair na frente - avisa Caleffi.
Curiosidade: a coluna confessou a Caleffi que estava "chateada" por nunca ter ouvido falar no dirigível "gaúcho", e ele ofereceu um alívio. Disse que, de fato, até agora a empresa estava conduzindo o projeto com extrema discrição. Ah, bom.