Nas redações, a necessidade de planejamento costuma ser acompanhada de uma brincadeira: "não podemos nos surpreender com o Natal". Em 2023, a falta de planejamento - além da de chuva - faz o Rio Grande do Sul se surpreender com mais uma estiagem.
Não é responsabilidade só do governo do Estado. A coluna, que acompanhou quase todas as apresentações das perspectivas para 2023 das principais federações empresariais gaúchas, não ouviu sequer uma advertência sobre o risco de falta de chuva durante a safra de verão, a mais importante para o Rio Grande do Sul. Ao contrário: o Estado teria um pibão graças a safra cheia.
Não pode ser mais assim. E a tarefa não pode ser apenas de órgãos públicos. Do governo do Estado aos produtores, passando por empresas, especialistas e imprensa - em seu papel de representar os interesses da sociedade -, todos somos responsáveis por encontrar uma solução robusta. Que não pode deixar de ser prioridade porque vai chover amanhã (há previsão de tempestade para a terça-feira, 14).
O problema é de todos: como se sabe, uma boa safra não garante apenas retorno para quem está no campo. Movimenta o varejo, a indústria da construção civil e, por esses pontos de contato direto, praticamente toda a economia gaúcha.
O ponto de partida da resposta tem de ser essa "surpresa": por mais que ainda exista dificuldade de compreensão da complexidade da mudança climática, os efeitos já estão entre nós. Investimento em meteorologia e desinvestimento em atividades que acentuam o problema já não são tendência em mercados mais maduros: fazem parte essencial do tema de casa, tanto quanto reduzir custo e ampliar retorno.
A indústria de máquinas agrícolas já tem uma proposta para incentivar a irrigação, mas é preciso ampliar a ambição. Isso não significa replicar soluções tecnológicas como a da dessalinização da água do mar - inaplicável em Bagé, por exemplo -, mas é importante copiar uma atitude da referência nessa área, a de Israel. Lá, cada gota de água é reaproveitada, inclusive a do esgoto - depois de passar por tratamento, claro. E se a solução precisa de todos, existe uma graduação dessa responsabilidade, é claro: quem está no governo tem sempre a maior.