O estudo apresentado pela McKinsey nesta quinta-feira (16) acena com números ambiciosos - R$ 60 bilhões de aumento do PIB e 40 mil empregos até 2040 - mas sempre é bom ver essas projeções como uma cenoura para que os coelhos corram atrás.
Ter um estudo que ajude os candidatos a investidores - compareceram Neoenergia, Enerfín e White Martins, que já tem memorandos de entendimento com o governo do Estado - é o primeiro passo, até porque o Rio Grande do Sul está entre os Estados com maior potencial no Brasil, mas parte atrás do Nordeste.
No início deste ano, foi anunciado o primeiro projeto em escala industrial do Brasil, em Camaçari (BA), que terá investimento de US$ 1,5 bilhão (hoje, R$ 7,8 bilhões) em três etapas - começando com mais factíveis US$ 120 milhões na construção da fábrica. Como relatou à coluna Marcos Ludwig, gaúcho que é sócio da área de infraestrutura do Veirano e atua no Rio de Janeiro, os projetos para exportação se concentram no Nordeste.
Até pelo maior custo logístico que disputar esse mercado representaria, o estudo da McKinsey tem o mercado doméstico como uma das âncoras. Garantir essa demanda será um dos desafios do Estado, alertaram os candidatos a investir aqui. Outros são o desenvolvimento de uma cadeia de suprimentos e políticas públicas que possam ajudar na transição energética, que terá alto custo.
Mas um dos participantes do evento de lançamento do estudo, Marco Antonio Morales, diretor de novos negócios da Enerfín para América Latina, é também um símbolo das oportunidade e desafios que estão diante do Estado. A Enerfín implantou em Osório um dos primeiros projetos de energia eólica do Brasil, o Ventos do Sul, quando essa modalidade de geração era quase tão desafiadora quanto é hoje o desenvolvimento do hidrogênio verde.
— O Rio Grande do Sul foi pioneiro, depois foi superado pelo Nordeste por problemas de transmissão. Hoje isso foi superado, há bilhões de investimento no Estado - lembrou Morales.
Um dos pontos críticos apontados no estudo é o fato de que 60% do preço do hidrogênio verde depende do custo de energia (veja detalhamento abaixo). Foi também Morales que lembrou que o Rio Grande do Sul ainda "importa" mais da metade da eletricidade que consome. Para desenvolver um combustível verde que depende essencialmente desse insumo, tem um bom tema de casa para fazer.
Os desafios não são pequenos, mas os parques eólicos já implantados no Estado mostram que há chance real de embarcar na nova onda energética global. Não é um projeto de curto prazo, mas sem dar esses passos agora, há risco de perder o momento. O fato de o governo do Estado ter despertado cedo e dado papel central ao tema ajuda. Mas essa é essencialmente uma política de Estado, não de governo. Precisa ser garantida ao longo das próximas décadas.
Mas se a perspectiva é de longo prazo, também não há tempo a perder. A Iberdrola, dona da Neoenergia, já tem contrato com a Transports Metropolitans de Barcelona para fornecer hidrogênio verde para sua frota de ônibus urbanos. A White Martins tem uma parceria com a Toyota para fornecer o combustível renovável para o novo carro da marca japonesa, o Mirai.
O que é hidrogênio verde
É um combustível produzido por um processo conhecido como eletrólise, que exige grande volume de água e de energia. Basicamente, separa as moléculas da água (H2O), ou seja, o hidrogênio do oxigênio. O "verde" é referência ao uso de fontes limpas de energia, em oposição ao "cinza", que tem fonte fóssil. Ainda existe o "azul", produzido por fontes fósseis, mas com captura de carbono. Seu uso mais conhecido é para abastecer veículos, mas também pode ser usado para geração de energia e até calor para prédios.