A cerimônia que marcou a chegada do vice-presidente Geraldo Alckmin ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) acabou se transformando em um ponto de inflexão na relação entre o novo governo e o mercado financeiro. Foi quando começou a reação da bolsa, para fechar com alta de 1,12%, embora o dólar tenha ficado estável (+0,01%) em R$ 5,45.
A mudança de humor teve ajuda de declarações do próprio Alckmin, do desmentido do ministro da Casa Civil sobre uma suposta "reforma da reforma" da Previdência anunciada pelo ministro da área, Carlos Lupi, e de esclarecimentos do indicado à presidência da Petrobras, Jean Paul Prates sobre critérios da mudança na política de preços da estatal. As ações da companhia ajudaram na reação da bolsa, com alta de 3,18%.
Alckmin falou sobre um "novo e inovador programa de reindustrialização", que terá acompanhamento e "avaliação dos resultados" - que faltou em políticas de estímulo de governos anteriores do PT. Outra chave foi o foco em atividade sustentável:
— A sociobiodiversidade será a energia do nosso desenvolvimento — afirmou, avisando que trabalhará com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, nessa direção.
Também avisou que haverá um programa de apoio a startups e "todo tipo de empreendimento inovador", para incentivar novas relações de emprego e geração de renda.
Assim que Alckmin terminou de falar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um movimento que chamou atenção até de quem acompanhava por vídeo, caso da coluna. Levantou-se e foi na direção do ministro da Casa Civil, Rui Costa, como se combinasse algo (foto acima). Logo depois, Costa disse a jornalistas que não existe plano de rever a mudança de 2019.
– Só para tranquilizar. Sei que todo mundo tem direito a opinião, mas neste momento não há nenhuma proposta de reforma da Previdência ou coisa semelhante.
Na terça-feira, a declaração do novo ministro da Previdência, Carlos Lupi, de que pretendia criar uma comissão com representantes de empregadores, empregados e governo para estudar uma possível revisão da reforma da Previdência havia sido o principal motivo da alta do dólar e da baixa da bolsa. Perguntado se Lupi havia se precipitado, Costa disse que o novo ministro foi levado pelo “entusiasmo da posse”. As declarações do ministro da Casa Civil deram novo alento à bolsa, ampliando e firmando a alta.
Foi também depois do evento de Alckmin que o indicado à presidência da Petrobras, Jean Paul Prates, esclareceu que, embora pretenda mudar a atual política de preços da estatal, não pretende fazer intervenções diretas nos preços dos combustíveis nem descasá-los das cotações internacionais.
O "combo bom humor" pode dar preciosas indicações ao novo governo. Não por acaso, Lula marcou a primeira reunião ministerial para sexta-feira (6). Se o novo governo quer fazer mudanças, precisa anunciar com clareza e tão detalhadamente quanto possível. Se ainda não há chancela, é preciso debater internamente antes de fazer declarações oficiais.