Como a cerimônia que marca a chegada de Simone Tebet ao Ministério do Planejamento ficou para esta quinta-feira (5), foi realizada já sob certa descompressão. Na véspera, durante ou logo depois da posse de Geraldo Alckmin ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), o governo iniciou uma correção de rumo que vai desembocar na reunião ministerial prevista para a sexta-feira (6).
Outra vez vestindo vermelho - em tom quase bordô, mais escuro do que o da camisa usada no anúncio final do ministério - Tebet começou falando sobre a sua surpresa de ser indicada ao Ministério do Planejamento e Orçamento e surpreendeu ao admitir em cerimônia oficial o que todos comentam: vai atuar em uma área em que tem divergências com o atual governo.
Ao citar o colega da Fazenda como o "mais poderoso da Esplanada, que tem a chave do cofre na mão", colheu de Fernando Haddad um aceno negativo da cabeça, com um meio sorriso. Fez questão de agradecer a Deus pela jornada e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela "confiança absoluta de entregar umas das pasta mais importantes e relevantes de seu governo" E se corrigiu:
— Do nosso governo, do PT e a frente ampla democrática do Brasil.
No entorno de Tebet, havia algum desconforto com o convite para o Planejamento por se uma pasta de baixa exposição pública nem conexão com as áreas fins, que dão mais visibilidade pública.
— Para mim, foi uma surpresa, porque é uma pauta que tenho alguma divergência. Tenho total sinergia e coincidência na área social e de costumes, estava pronta e preparada, mas fui parar na pauta econômica — reconheceu.
Depois, relatou detalhes de seu convite, que veio dentro de um envelope fechado entregue a ela por Lula, para ser aberto "só depois do Natal":
— Quando abri minha boca para agradecer, perguntei se não tinha havido algum equívoco. Temos divergências econômicas. O presidente riu e ignorou como se dissesse 'é isso que eu quero'. Como democrata que é, o presidente Lula não quer iguais, quer diferentes para se somar.
Não deixou sequer de abordar o episódio da retirada do Programa de Parcerias em Investimentos (PPI) da área econômica - chegou a existir a expectativa de que fosse para seu guarda-chuva:
— As parcerias vão para as mãos responsáveis e competentes de Rui Costa, que vai elaborar um novo Programa de Parceiras em Investimentos. Vamos participar de conselhos, colaborando e ajudando.
Tebet ainda ecoou o discurso do ministro de Direitos Humanos, Silvio Almeida, que disse a vários grupos discriminados que todos "existem e são valiosos". Disse que quer incluir os pobres e todos esses grupos no orçamento, porque "passou da hora de dar visibilidade aos invisíveis". E também que atuará com um "lado firme, austero, mas conciliador", para contemplar com "recursos disponíveis" as demandas de cada ministério que atua em áreas finais.
— Tem de abarcar todas essas prioridades, sem deixar de ficar de olho na dívida pública.
Depois de citar os quatro ministérios da área econômica - "um quarteto a favor do Brasil", caracterizou, fez questão de elogiar o discurso feito por Geraldo Alckmin na véspera, mencionando como a atividade econômica privada deve gerar empregos. E para não deixar dúvidas, encerrou assim:
— A política social é essencial neste governo, mas não existe política social sem responsabilidade. Em retirada, o capitão e sua tropa deixaram sementes de destruição. Vamos cuidar das boas semanas, porque o Brasil sempre foi terra fértil.
A bolsa, que já havia aberto em leve alta, subiu de 105,4 mil pontos no início do discurso para 106,4 mil no final, ou seja, subiu quase 1% no decorrer do discurso.