Foi mesmo um choque: na manhã desta quinta-feira (8), o grupo temático de Energia da equipe de transição apontou um passivo que descreveu como "assustador" de quase R$ 500 bilhões só em eletricidade nos próximos anos (veja detalhamento abaixo).
Foi um sobressalto até para a coluna, que acompanhou algumas das polêmicas que acabaram indo parar nessa conta - caso do acordo para privatizar a Eletrobras, que impôs a construção de térmicas e gasodutos. Por isso, consultou entidades do setor para avaliar se a quantia é reconhecida ou se é excessiva.
– Estamos alertando há muito tempo sobre os novos custos desnecessários que estão sendo colocados, tanto pelo poder Executivo quanto pelo Legislativo, na conta dos consumidores de energia. Essa conta está ficando impagável e pode levar o setor elétrico brasileiro ao colapso. Precisamos fazer um pacto para brecar esses custos e reduzir o custo da energia, fazendo a indústria mais competitiva e permitindo que o brasileiro comum tenha um respiro no orçamento, que hoje está altamente comprometido com o custo da energia - afirmou Paulo Pedrosa, presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace).
Ou seja, no setor a cifra não espanta. A coluna insistiu em uma avaliação sobre a precisão do cálculo, mas a Abrace respondeu que não é possível fazer essa avaliação. Há tantos penduricalhos que é difícil confirmar a exatidão do valor. E foi lembrada que, nesse momento, um projeto aprovado na Câmara e que avançou para o Senado que coloca mais
R$ 100 bilhões na conta do consumidor.
Essa situação de constantes e injustificáveis aumentos na conta de luz do consumidor provocou, inclusive, a criação da Frente dos Consumidores de Energia. Seu presidente, Luiz Eduardo Barata, diz que o valor anunciado não surpreende, embora seja absurdo que o consumidor possa ter de arcar com uma conta desse tamanho:
– Precisamos urgentemente acabar com esses aumentos na conta.
Depois do anúncio, chamou atenção a reação do atual ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida. Em um comentário no Twitter, ele não questionou o cálculo de quase de R$ 500 blihões. Só fez questão de dizer que não deixa "herança maldita" e que também herdou uma conta pesada originada no governo Dilma Rousseff.
A conta de quase a R$ 500 bilhões
Acordo para privatizar Eletrobras | R$ 368 bi
Reserva de mercado para PHCs | R$ 55 bi
Contratação emergencial de térmicas | R$ 39 bi
Conta covid (empréstimo às distribuidoras) | R$ 23 bi
Conta de escassez hídrica | R$ 6,5 bi
Total | R$ 491,5 bi